08.05.2013 Views

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

26<br />

empenhava em aprofundá-lo. Estudar <strong>Joinville</strong>, especialmente <strong>de</strong> <strong>migrante</strong><br />

em <strong>migrante</strong> a partir da década <strong>de</strong> <strong>1980</strong>, significou, acima <strong>de</strong> tudo, me<br />

(re)reconhecer como historiadora, professora e novamente aluna.<br />

Para o sociólogo Boaventura <strong>de</strong> Sousa Santos, “todo conhecimento<br />

é autoconhecimento” 10 . Valho-me dos seus argumentos para explicitar<br />

que, sob as vestes do meu tema/objeto, busco promover encontros com<br />

os <strong>de</strong>mais pesquisadores que se <strong>de</strong>bruçaram, direta ou indiretamente,<br />

sobre o tema/objeto, bem como com aqueles que não têm a ciência como<br />

lócus <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> discurso sobre ele. Há duas razões que, extraídas<br />

das reflexões <strong>de</strong> Santos, me auxiliam para esclarecer ao leitor que a<br />

subjetivida<strong>de</strong> aqui <strong>de</strong>clarada não <strong>de</strong>ve ser confundida como <strong>uma</strong> espécie<br />

<strong>de</strong> renúncia a minha “vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber” 11 histórico e acadêmico.<br />

Em primeiro lugar, a minha escrita historiográfica situa-se no<br />

contexto dos <strong>de</strong>sdobramentos teóricos e sociais da “crise <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong><br />

científica” 12 – <strong>de</strong>nominada por Santos –, a qual radicalmente questionou<br />

a epistemologia que apregoava a disjunção entre sujeito e objeto no<br />

processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimento.<br />

Na contemporaneida<strong>de</strong>, os próprios especialistas, ao problematizar<br />

suas “práticas científicas” 13 , passaram a <strong>de</strong>sentocar e atribuir importância<br />

à relação entre a insurgência <strong>de</strong> suas práticas e as condições sociais,<br />

os contextos culturais e os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> investigação científica que as<br />

atravessam e as movem. Portanto, nem sujeito nem objeto se sustentam<br />

como elementos isoláveis das relações e dos contextos que os cercam.<br />

Por sua vez, avançar cientificamente requer do pesquisador adotar como<br />

horizonte <strong>de</strong> pertinência sobre o que produz a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliar<br />

<strong>de</strong> forma complexa o saber científico, não como mais <strong>uma</strong> parte a ser<br />

adicionada no todo, mas como variável que, com insistência, busca<br />

novas e múltiplas interfaces com outros saberes 14 .<br />

10 SANTOS, Boaventura <strong>de</strong> Sousa. Op. cit. p. 52.<br />

11 O termo é do filósofo Michel Foucault. Explica ele que o discurso, incluindo o científico, está<br />

submetido a um processo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nação e <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> exclusão advindas da exteriorida<strong>de</strong>, por<br />

meio do qual impõe àquele que discursa interdições. Por outro lado, o discurso traduz a luta<br />

e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r daquele que discursa impulsionado pela “vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber”. Diz ele: “O<br />

discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas <strong>de</strong> dominação, mas aquilo<br />

por que, pelo que se luta, o po<strong>de</strong>r do qual nós queremos apo<strong>de</strong>rar”. Retomarei tais explicações<br />

no Capítulo II. FOUCAULT, Michel. a or<strong>de</strong>m do discurso. Aula inaugural no Collège <strong>de</strong><br />

France, pronunciada em 2 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1970. 11. ed. São Paulo: Loyola, 2004.<br />

12 SANTOS, Boaventura <strong>de</strong> Sousa. Op. cit.<br />

13 Id. Ibid. p. 57.<br />

14 Id. Ibid. p. 65.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!