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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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da história oral neste estudo, levando em consi<strong>de</strong>ração as discussões<br />

acerca do estado atual da arte <strong>de</strong>ssa metodologia.<br />

Vilanova explica que, em história oral, a subjetivida<strong>de</strong> e a<br />

parcialida<strong>de</strong> dizem respeito não apenas ao entrevistado, pois a entrevista<br />

consiste num encontro entre sujeitos que dialogam, ouvem e se olham.<br />

Diz ela que, enquanto historiadores, queremos saber “quem são e<br />

como são” os nossos entrevistados, mas, sobretudo, “falando com eles,<br />

queremos saber quem somos nós” 17 . Por isso, o roteiro preparado <strong>de</strong><br />

antemão não garante <strong>uma</strong> boa entrevista. É o diálogo que permite o<br />

seu <strong>de</strong>sabrochar até o limite do possível, limite esse carregado <strong>de</strong> riscos<br />

para os envolvidos, ainda que aqueles que mais arrisquem sejam os<br />

entrevistados.<br />

Diferença na experimentação da igualda<strong>de</strong> e igualda<strong>de</strong> na<br />

experimentação da diferença – tal diretriz impõe não apenas dominar<br />

procedimentos metodológicos específicos, mas principalmente se traduz<br />

como compromisso obrigatório do historiador nos momentos em que<br />

faz e interpreta as entrevistas ou <strong>de</strong>las tira conclusões. O professor<br />

italiano <strong>de</strong> Literatura Alessandro Portelli 18 lembra também que nas<br />

socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>siguais como as do mundo contemporâneo a maioria das<br />

entrevistas não é feita com indivíduos que estejam em condições <strong>de</strong><br />

igualda<strong>de</strong> com os entrevistadores. O esclarecimento dos objetivos e o<br />

estabelecimento <strong>de</strong> iguais condições para tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão sobre o<br />

que e como significar o lembrado pressupõem enten<strong>de</strong>r a diferença como<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizado compartilhado e mutuamente respeitado.<br />

Por isso, penso que, em história oral, o <strong>de</strong>lineamento das fronteiras<br />

implica o respeito às subjetivida<strong>de</strong>s em jogo.<br />

Nessa direção, exponho a minha própria experiência. No <strong>de</strong>correr<br />

da pesquisa tive <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a lidar com os silêncios <strong>de</strong>liberados<br />

pelos entrevistados no momento das entrevistas e as autointerdições<br />

produzidas nos dias seguintes. Vários apertos na tecla pause <strong>de</strong> meu<br />

gravador digital e edições com borrões foram feitas por solicitação dos<br />

entrevistados. Uma interdição <strong>de</strong>safiou especialmente o cumprimento<br />

<strong>de</strong> meus compromissos. Inicialmente <strong>de</strong>tive duas horas e <strong>de</strong>zessete<br />

minutos <strong>de</strong> <strong>uma</strong> narrativa rica em <strong>de</strong>talhes e significados. Alguns dias<br />

<strong>de</strong>pois, a pedido, a entrevista foi reduzida a pouco mais <strong>de</strong> <strong>uma</strong> hora.<br />

17 VILANOVA, Merce<strong>de</strong>s. Op. cit. p. 54.<br />

18 PORTELLI, Alessandro. Tentando apren<strong>de</strong>r um pouquinho: alg<strong>uma</strong>s reflexões sobre a ética<br />

na história oral. Projeto História, São Paulo, n. 15, abr. 1997.

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