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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Acredito que todas essas informações sejam valiosas para enten<strong>de</strong>r<br />

como quantitativamente <strong>Joinville</strong> se constitui n<strong>uma</strong> cida<strong>de</strong> <strong>migrante</strong>. Porém<br />

é preciso refletir sobre esse “enclave <strong>de</strong>mográfico em terras historiográficas”,<br />

conforme expressão do historiador francês Paul-André Rosental 5 .<br />

Em artigo publicado em português, em 2009, esse autor explica<br />

que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a meta<strong>de</strong> do século XIX, quando então foi forjado o termo,<br />

“a <strong>de</strong>mografia tem por proprieda<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a população em suas<br />

dinâmicas internas”, reduzindo-a “a um jogo <strong>de</strong> variáveis, tais como a<br />

natalida<strong>de</strong>, as núpcias e a mortalida<strong>de</strong>” 6 . As migrações são aí tidas como<br />

variáveis exógenas, po<strong>de</strong>ndo ou não interferir nessas dinâmicas. Segundo<br />

suas palavras, para a <strong>de</strong>mografia,<br />

a população é compreendida como <strong>uma</strong> entida<strong>de</strong><br />

orgânica e dinâmica que contém <strong>de</strong> maneira endógena<br />

o princípio da sua própria evolução. Os outros aspectos<br />

– sociais, econômicos, políticos, institucionais – são<br />

secundários em relação a este esquema 7 .<br />

Teria sido a partir <strong>de</strong>ssa “construção cognitiva” que a <strong>de</strong>mografia<br />

histórica 8 empreen<strong>de</strong>u não apenas seus estudos, mas também guarneceu, até<br />

os anos <strong>1980</strong>, o trabalho <strong>de</strong> vários historiadores que procuravam respon<strong>de</strong>r<br />

aos imperativos <strong>de</strong> “produzir um saber sobre os grupos sociais os mais<br />

vastos e os mais anônimos, [bem como] promover a história como ciência<br />

graças à quantificação” 9 .<br />

Quando os <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> generalizações históricas começam a ser<br />

colocados em xeque e, ao mesmo tempo, quando novas ferramentas<br />

estatísticas permitem problematizar “pequenas amostras” e processos, os<br />

historiadores passam a se distanciar da “construção cognitiva”, baseada no<br />

“objetivismo” <strong>de</strong>mográfico.<br />

Sob alerta, tal “objetivismo” passou a ser entendido, a partir da<br />

década <strong>de</strong> <strong>1980</strong>, como <strong>uma</strong> construção da realida<strong>de</strong> social. As categorias<br />

5 ROSENTAL, Paul-André. Por <strong>uma</strong> história política das populações. tempo e argumento,<br />

Florianópolis, v. 1, n. 1, p. 176-200, jan./jul. 2009.<br />

6 Id. Ibid. p. 183.<br />

7 Id. Ibid.<br />

8 Segundo Rosental, “a <strong>de</strong>mografia histórica conquistou rapidamente seu monopólio ao longo<br />

do terceiro quarto do século XX. Pela unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas fontes (os registros <strong>de</strong> estado civil), <strong>de</strong><br />

seus métodos (codificados, em 1956, pelo <strong>de</strong>mógrafo Louis Henry e pelo arquivista Michel<br />

Fleury), e mesmo <strong>de</strong> suas problemáticas, ela é provavelmente a especialida<strong>de</strong> mais cumulativa<br />

que as ciências históricas conheceram”. Id. Ibid. p. 178-179.<br />

9 Id. Ibid. p. 179.

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