08.05.2013 Views

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

249<br />

<strong>de</strong> história da arte, escultura e vi<strong>de</strong>oarte, criação da Oficina da Palavra,<br />

unindo poetas e escritores <strong>de</strong> diferentes locais, promoção <strong>de</strong> concertos<br />

líricos e reconstituição da Orquestra Filarmônica <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. Na linha<br />

“Memória e referência”, <strong>de</strong>stacava-se o necessário incremento à ativida<strong>de</strong><br />

museológica. Para o Museu <strong>de</strong> Arte estavam previstas exposições “<strong>de</strong><br />

fôlego” <strong>de</strong> artistas nacionais e internacionais e <strong>uma</strong> política <strong>de</strong> “fazer o<br />

museu viajar através <strong>de</strong> seu acervo, levando o nome da cida<strong>de</strong> a outras<br />

plagas”. O Museu do Sambaqui e o mais visitado, Museu Nacional <strong>de</strong><br />

Imigração e Colonização, seriam também importantes alvos da “ação<br />

cultural” 323 .<br />

A justificativa para a iniciativa consistia no <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> “<strong>de</strong>senvolver<br />

as manifestações mais genuínas da cida<strong>de</strong>”. Tratava-se <strong>de</strong> não apenas<br />

“resgatar a cultura germânica, preservar o que resta <strong>de</strong> <strong>uma</strong> arquitetura<br />

étnica e <strong>de</strong> época”, mas, e principalmente, “enxergar e acolher <strong>uma</strong><br />

cultura mais cosmopolita”, “amálgama <strong>de</strong>sse complexo tecido social<br />

joinvilense”. A Fundação Cultural, <strong>de</strong>ssa forma, buscava “sondar<br />

e revelar as vocações intrínsecas da urbe, apontar suas carências e<br />

capacitar seus cidadãos para produzir e consumir cultura [...]. Ser<br />

para o cidadão o espelho que vai mostrar o seu rosto e possibilitar a<br />

transformação do casulo ao vôo” 324 .<br />

Parece-me que o texto não insinua, mas exprime claramente<br />

o que o po<strong>de</strong>r público concebe e espera da cultura para projetar<br />

<strong>Joinville</strong> nos tempos e espaços globais. Ao preten<strong>de</strong>r ser “espelho do<br />

cidadão”, oferecer-lhe-ia cosméticos e acessórios para incluí-lo e excluílo<br />

simultaneamente na cida<strong>de</strong> contemporânea. Cultura cosmopolita,<br />

pragmaticamente concebida como dimensão capaz <strong>de</strong> “elevar” o “nível”<br />

artístico, literário e histórico daqueles que <strong>de</strong>veriam <strong>de</strong>sempenhar papéis<br />

mais condizentes com as necessida<strong>de</strong>s “sondadas”.<br />

Encontro também nesse escrito movimentos explícitos que<br />

almejam novamente fixar <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> para <strong>Joinville</strong>, nos quais<br />

também se enredam as narrativas que procuram reformar e positivar<br />

os fluxos migratórios e a presença dos <strong>migrante</strong>s no passado e no<br />

presente.<br />

“Multiculturalismo conservador”, eis o termo proposto por<br />

Santos, do qual faço uso para interpretar alguns dos discursos que, pela<br />

imprensa, a partir do fim dos anos 1990, intentam “tolerantemente” criar<br />

um novo receituário para submeter as diferenças que parecem pulsar<br />

323 CULTURA em <strong>Joinville</strong>... Op. cit.<br />

324 Id. Ibid.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!