08.05.2013 Views

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

247<br />

Acredito não ser relevante, na análise que empreendo, questionar<br />

o caráter cosmopolita <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> em relação a outras cida<strong>de</strong>s<br />

contemporâneas. Para tanto, relembro as palavras <strong>de</strong> Pesavento para<br />

justificar a importância que adquirem os discursos que exprimem<br />

sensibilida<strong>de</strong>s sobre a cida<strong>de</strong> e suas vivências. Diz ela:<br />

Cida<strong>de</strong>s sonhadas, <strong>de</strong>sejadas, temidas, odiadas;<br />

cida<strong>de</strong>s inalcançáveis ou terrivelmente reais,<br />

mas que possuem essa força do imaginário <strong>de</strong><br />

qualificar o mundo. Tais representações foram e<br />

são capazes <strong>de</strong> até mesmo se imporem como as<br />

“verda<strong>de</strong>iras”, as “reais”, as “concretas” cida<strong>de</strong>s<br />

em que vivemos. Afinal, o que chamamos <strong>de</strong><br />

“mundo real” é aquele trazido por nossos sentidos,<br />

os quais nos permitem compreen<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong> e<br />

enxergá-la <strong>de</strong>sta ou daquela forma 318 .<br />

Assim, quando Ternes qualifica <strong>Joinville</strong> como “cida<strong>de</strong><br />

cosmopolita” e “cal<strong>de</strong>irão <strong>de</strong> raças”, quando o prefeito Freitag reconhece<br />

a pujança da cida<strong>de</strong> como resultado <strong>de</strong> “todos”, quando moradores <strong>de</strong><br />

classe média, na sua maioria <strong>migrante</strong>s, reivindicam a preservação<br />

do patrimônio cultural e da “tradição” da cida<strong>de</strong> ou quando Cadorin<br />

conclama o po<strong>de</strong>r público para promover a “solidarieda<strong>de</strong>”, única força<br />

propulsora capaz <strong>de</strong> inserir <strong>Joinville</strong> no processo <strong>de</strong> globalização, tem-se<br />

à frente um enigmático jogo <strong>de</strong> sentidos, dado à problematização e que<br />

diz respeito à produção local da globalização e à globalização local.<br />

O sociólogo Boaventura Santos explica que os processos<br />

globalizantes produzem “fenômenos <strong>de</strong> múltiplas faces” que ligam<br />

“dimensões políticas, econômicas, culturais, religiosas e jurídicas <strong>de</strong> modo<br />

complexo”. Mas é preciso não per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista a “natureza hierárquica<br />

do sistema mundial” sem, contudo, recair na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que estaríamos<br />

diante <strong>de</strong> um processo “linear, monolítico e inequívoco”. Assim, como<br />

produções sociais, os processos <strong>de</strong> globalização manifestam diferentes<br />

formas <strong>de</strong> articulação entre global e local, produzindo ao mesmo tempo<br />

diferentes mecanismos <strong>de</strong> inclusão e exclusão econômica, cultural,<br />

política e social. Aí a importância, segundo o autor, <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar que<br />

“não existe globalização genuína; aquilo a que chamamos globalização<br />

é sempre a globalização bem sucedida <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado localismo”. As<br />

i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> localismos globalizados e globalismos localizados carregam<br />

318 PESAVENTO, Sandra Jatahy. Op. cit. p. 11.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!