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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Uma reportagem, feita por Maria Cristina Dias 305 , especialmente<br />

chama atenção para os novos e emergentes <strong>de</strong>sejos, sensibilida<strong>de</strong>s e<br />

projetos <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>. Ao retratar o bairro América, o qual até 1977 pertencia<br />

à região central 306 , a jornalista <strong>de</strong>staca a mobilização dos moradores<br />

para evitar a verticalização da área. A Associação <strong>de</strong> Moradores e<br />

Amigos da Zona Resi<strong>de</strong>ncial e Exclusivamente Unifamiliar do Bairro<br />

América, criada em 1994, teria encaminhado abaixo-assinado à Câmara<br />

dos Vereadores para que a reivindicação fosse contemplada no Plano <strong>de</strong><br />

Uso e Ocupação do Solo. Antigos e novos moradores 307 , <strong>migrante</strong>s bemsucedidos,<br />

estariam também preocupados com a instalação <strong>de</strong> indústrias,<br />

casas comerciais e do Hospital Infantil (voltado ao atendimento <strong>de</strong> toda<br />

a população), por estes constituírem <strong>uma</strong> ameaça à preservação das<br />

“características do local”. Tais características, em nada remotas, eram<br />

ilustradas pela jornalista como exóticas reminiscências da gastronomia<br />

e do lazer 308 .<br />

A preocupação com o futuro da cida<strong>de</strong> e as mobilizações<br />

para torná-la esteticamente atrativa repetem-se, ainda que diferentes<br />

pressupostos e argumentos sejam <strong>de</strong>senvolvidos discursivamente.<br />

A então presi<strong>de</strong>nte da Fundação Municipal do Meio Ambiente<br />

(Fun<strong>de</strong>ma), Maria Andreis Cadorin, como <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> resposta a<br />

essas inquietações, explicava: “Existe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contextualizar<br />

as cida<strong>de</strong>s no panorama mundial da globalização e das profundas<br />

mudanças tecnológicas, apontando para futuros cenários sócioeconômicos<br />

e ambientais”. Segundo ela, os gestores públicos <strong>de</strong>veriam<br />

ser sensibilizados, pois a cida<strong>de</strong> estava passando por alterações na<br />

sua “vocação produtiva”. Com a automatização e a <strong>de</strong>sconcentração<br />

industrial, aliadas à terceirização <strong>de</strong> serviços, o setor terciário, que<br />

305 DIAS, Maria Cristina. América, sinônimo <strong>de</strong> tradição. a notícia, <strong>Joinville</strong>, 29 set. 1996.<br />

306 PREFEITURA MUNICIPAL DE JOINVILLE. Fundação Instituto <strong>de</strong> Pesquisa e Planejamento<br />

para o Desenvolvimento Sustentável <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. <strong>Joinville</strong> bairro a bairro: 2006. <strong>Joinville</strong>:<br />

IPPUJ, 2006. p. 9.<br />

307 Conforme dados pesquisados, o bairro concentra habitantes com elevada renda em relação<br />

aos <strong>de</strong>mais. Em 2000, 78% dos habitantes possuíam renda maior que 5 salários mínimos.<br />

Dentre estes, 29% registravam mais que 20 salários mínimos. Id. Ibid. p.10.<br />

308 Para se ter <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ia, a jornalista sugere como remota referência <strong>de</strong> lazer o Centro <strong>de</strong><br />

Patinação Artística, criado em 1989. As referências gastronômicas restringiram-se a dois<br />

restaurantes: o Sopp, inaugurado em 1986, e o Zeppelin, instalado em 1977 no bairro, o<br />

qual mantinha um “antigo” hábito comercial, a “ca<strong>de</strong>rneta” para seus frequentadores mais<br />

conhecidos. Para além <strong>de</strong>ssa ilustração tangível da “tradição”, haveria ainda os laços <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong><br />

reinantes entre jogadores <strong>de</strong> dominó e vizinhança. DIAS, Maria Cristina. Op. cit.

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