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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Paradoxalmente, no fim dos anos 1990 e início do século XXI,<br />

houve <strong>uma</strong> mudança substancial dos discursos. A afirmação do “passado<br />

como tradição” procurou recompor o lugar da migração, abrandando<br />

(para não dizer buscando extinguir) os estigmas 301 sobre os <strong>migrante</strong>s.<br />

Essas personagens passaram a ser consi<strong>de</strong>radas “continuadores” do<br />

progresso econômico e reverenciadores da tradição joinvilense.<br />

Em março <strong>de</strong> 1996, sob o título “Comunida<strong>de</strong> respeita costumes<br />

e tradições”, o jornal A Notícia dava <strong>de</strong>staque às palavras do mesmo<br />

prefeito que, 22 anos antes, profetizara o aparecimento <strong>de</strong> <strong>uma</strong> sub-raça<br />

em <strong>Joinville</strong>. Dizia ele agora:<br />

Uma comunida<strong>de</strong> que respeita os seus costumes<br />

e preserva suas tradições [...]. Estão todos <strong>de</strong><br />

parabéns – <strong>migrante</strong>s e i<strong>migrante</strong>s, pioneiros<br />

e continuadores, responsáveis cada um e cada<br />

qual, por um pouquinho <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za que aqui<br />

foi construída. Ao completar 145 anos, a nossa<br />

<strong>Joinville</strong> está cada vez mais forte, pujante, bonita<br />

e alegre 302 .<br />

A esse discurso reformador do passado se associam outros, <strong>de</strong><br />

várias autorias, abordando a paisagem privilegiada, a beleza estética<br />

urbana 303 e o potencial turístico da cida<strong>de</strong>. Além disso, a “história como<br />

tradição” será estendida e extensiva como valor joinvilense que abrange<br />

os bairros. Longas reportagens misturam trajetórias <strong>de</strong> <strong>migrante</strong>s como<br />

exemplos coletivos <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e participação “comunitária” 304 .<br />

301 Cabe aqui citar a obra <strong>de</strong> Irving Goffman. Para esse autor, o processo estigmatizante<br />

não se refere apenas às atribuições externas ao indivíduo/grupo. Ele está no cerne das<br />

i<strong>de</strong>ntificações e da vivência da diferença. Goffman acredita que a produção do estigma também<br />

é <strong>uma</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os sujeitos <strong>de</strong>senvolverem sentimentos <strong>de</strong> pertença junto a grupos<br />

estigmatizadores. Em outras palavras, a atribuição e a manipulação do estigma transitam não<br />

apenas em espaços que os sujeitos estigmatizados não controlam e dos quais não participam, mas<br />

também são impulsionadas pelas apropriações e <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r daqueles que supostamente<br />

são <strong>de</strong>positários passivos do estigma. GOFFMAN, Irving. estigma: notas sobre a manipulação<br />

da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>teriorada. Tradução <strong>de</strong> Mathyas Lambert. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara, 1988.<br />

302 ESPECIAL <strong>Joinville</strong> 145 anos. a notícia, <strong>Joinville</strong>, 9 mar. 1996.<br />

303 LOETZ, Claudio. <strong>Joinville</strong> investe em infra-estrutura turística. a notícia, <strong>Joinville</strong>, 7 jul.<br />

1996. Economia. p. 1 e 4.<br />

304 A esse respeito, ver: ASSUNÇÃO, Luis Fernando. Um pedaço do Paraná em <strong>Joinville</strong>. a<br />

notícia, <strong>Joinville</strong>, 15 set. 1996.

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