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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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240<br />

Conforme a pesquisa que realizei, no <strong>de</strong>correr dos anos <strong>1980</strong> outras<br />

reportagens que não apenas as selecionadas por Gruner corroboram a<br />

compreensão <strong>de</strong>ssas práticas discursivas.<br />

Os jornalistas Marlene Eggert e Adilson Borges, na reportagem<br />

“As tradições estão <strong>de</strong>saparecendo” 290 , fazem um balanço sobre<br />

a situação das marcas da “tradição” na cida<strong>de</strong>. O idioma alemão<br />

utilizado pelos moradores na tradicional Rua XV estaria <strong>de</strong>saparecendo<br />

e, junto com ele, os primorosos jardins, as casas <strong>de</strong> enxaimel, os<br />

fazeres gastronômicos, como o pão caseiro, a geleia e as conservas;<br />

enfim, hábitos e comportamentos mantidos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> “remotos” tempos<br />

coloniais.<br />

No enredo dos jornalistas, a migração seria causa e consequência<br />

das perdas e ameaças à dita germanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>, a qual, concebida<br />

como algo imanente das sociabilida<strong>de</strong>s e da própria urbe, parecia estar<br />

entrando em estado <strong>de</strong> inconsciência coletiva. Contra isso, apelavam para<br />

que os joinvilenses não se ren<strong>de</strong>ssem diante da situação e persistissem,<br />

até mesmo restaurando na comunicação urbana o uso do idioma alemão.<br />

Especialmente os jovens <strong>de</strong>veriam se conscientizar e assumir o principal<br />

papel na preservação da tradição <strong>de</strong> seus antepassados.<br />

A afirmação do passado como “tradição” e, ao mesmo tempo, o<br />

movimento estigmatizante que atravessa os discursos chegam ao ponto <strong>de</strong><br />

colocar sob suspeita a própria h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong> dos <strong>migrante</strong>s. As péssimas<br />

condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e higiene das habitações, resultantes da expansão<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada da “periferia” 291 , são temas recorrentes associados a outros,<br />

como miséria, alimentação precária, crenças populares 292 , imoralida<strong>de</strong>s<br />

e maus hábitos 293 .<br />

Um fragmento estigmatizante chama atenção, dispensando maiores<br />

análises acerca das representações carregadas <strong>de</strong> preconceito. O Jornal<br />

Extra, ao informar que <strong>de</strong>ntre os 300 mil habitantes 30 mil moravam<br />

em condições precárias, põe em <strong>de</strong>staque o que o então prefeito <strong>de</strong><br />

290 EGGERT, Marlene; BORGES, Adilson. As tradições estão <strong>de</strong>saparecendo. a notícia,<br />

<strong>Joinville</strong>, p. 1 e 20, 27 jul. <strong>1980</strong>.<br />

291 FAMÍLIAS vivem sobre mangues no Espinheiro. a notícia, <strong>Joinville</strong>, p. 1 e 5, 2 out. <strong>1980</strong>;<br />

FAVELA do Fátima será integrada ao Profipo. a notícia, <strong>Joinville</strong>, p. 1 e 5, 12 out. <strong>1980</strong>;<br />

A FAVELA do Espinheiros. a notícia, <strong>Joinville</strong>, 8 maio 1981; AMANHECE na favela do<br />

Casqueiro. a notícia, <strong>Joinville</strong>, p. 16, 20 jul. 1981.<br />

292 BORGES, Sérgio. Aventuras e folclore no mangue. a notícia, <strong>Joinville</strong>, p. 20, 6 out.<br />

1981.<br />

293 AMILO, Albertina. (Sobre) viver no mangue: o <strong>de</strong>safio dos humil<strong>de</strong>s. a notícia, <strong>Joinville</strong>,<br />

p. 24, 17 jan. 1987.

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