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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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para aqueles que não são <strong>migrante</strong>s, é estar não estando, é partir e retornar<br />

ficando, é mover-se parado, ainda mais se o cruzamento <strong>de</strong> sombras <strong>de</strong><br />

temporalida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> espaços move também o ofício escolhido.<br />

Alg<strong>uma</strong>s constatações levam-me a usar esses gerúndios<br />

contrastantes. Na cotidianida<strong>de</strong> urbana convive-se com fluxos <strong>de</strong> toda<br />

espécie. Dimensões físicas <strong>de</strong> espaço já não são referências unívocas para<br />

seus habitantes. Po<strong>de</strong>-se trabalhar e estudar à distância. Tão fácil quanto<br />

trocar <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ia com um vizinho ou com um sujeito na fila do banco é<br />

comunicar-se com aqueles outros distantes, conhecidos ou <strong>de</strong>sconhecidos,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que conectados a telefones móveis ou internet. Po<strong>de</strong>-se consumir<br />

algo tido como único proveniente <strong>de</strong> qualquer parte do planeta, bastando ir<br />

a shoppings ou a lojinhas que se valem <strong>de</strong> <strong>de</strong>scaminhos fiscais. Conseguese<br />

comparar paisagens familiares com paisagens <strong>de</strong>sconhecidas que<br />

chegam como imagens <strong>de</strong> alta resolução que pululam em outdoors nos<br />

cruzamentos ou avenidas por on<strong>de</strong> se passa. O aqui e o lá, o perto e o<br />

distante parecem estar sincronizados. Disso, imagina-se que a cida<strong>de</strong><br />

contemporânea tem <strong>de</strong> per si a continência do <strong>de</strong>slocamento, e por ela,<br />

mesmo que não se queira, se está à <strong>de</strong>riva.<br />

O termo cida<strong>de</strong> contemporânea sugere, pois, <strong>uma</strong> nova paisagem<br />

para o estudo do urbano e das urbanida<strong>de</strong>s que subsidia não a <strong>de</strong>fesa<br />

<strong>de</strong> um conceito ou categoria generalizante, mas <strong>uma</strong> abordagem e <strong>uma</strong><br />

maneira <strong>de</strong> estudar as transformações das cida<strong>de</strong>s a partir da segunda<br />

meta<strong>de</strong> do século XX.<br />

Segundo os historiadores Emerson César <strong>de</strong> Campos e Maria<br />

Bernar<strong>de</strong>te Ramos Flores, enquanto objeto <strong>de</strong> cultura e na falta <strong>de</strong><br />

“nominação”, a cida<strong>de</strong> contemporânea contrasta o paradigma da “cida<strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rna” tributário do século XIX, pelo qual se instituiu e se justapôs<br />

“um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e dominação”, bem como “<strong>uma</strong> maneira própria<br />

<strong>de</strong> conhecer, abordar, olhar, dominar e construir a cida<strong>de</strong>” 4 . A noção<br />

<strong>de</strong> cida<strong>de</strong> contemporânea, assim, possibilita ampliar o estudo e refletir<br />

sobre as práticas e representações urbanas não mais restritas a um<br />

sistema racional, “um objeto passível <strong>de</strong> planificação, apreendido em sua<br />

totalida<strong>de</strong>” 5 . Dizem os autores: “transitar pela cida<strong>de</strong>. Esta é a ativida<strong>de</strong><br />

mais próxima do momento, mais distante das estabilida<strong>de</strong>s, menos morta<br />

da vida citadina, mais íntima das superfícies” 6 .<br />

4 CAMPOS, Emerson César <strong>de</strong>; FLORES, Maria Bernar<strong>de</strong>te Ramos. Carrosséis urbanos: da<br />

racionalida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna ao pluralismo temático (ou territorialida<strong>de</strong>s contemporâneas). revista<br />

Brasileira <strong>de</strong> História, v. 27, n. 53, p. 267-296, jan.-jun 2007. p. 268.<br />

5 Id. Ibid. p. 269.<br />

6 Id. Ibid. p. 270.

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