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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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239<br />

Se os discursos são tecidos por outros discursos e, como lembra<br />

Orlandi 286 , a leitura <strong>de</strong>les requer consi<strong>de</strong>rar os dizeres não apenas como<br />

“mensagens a serem <strong>de</strong>codificadas”, mas como “efeitos <strong>de</strong> sentidos” que<br />

são criados e que <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong> forma estão “presentes no modo como se<br />

diz”, é preciso não per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista a relação do discurso <strong>de</strong> Ternes com<br />

outros discursos que vão sendo produzidos sobre a história <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>.<br />

Assim, nos anos <strong>de</strong> 1990, à medida que os historiadores <strong>de</strong>senvolvem<br />

suas pesquisas, elaboram críticas e opiniões – incluindo aí também<br />

calorosas polêmicas –, as quais ganham espaço, ainda que reduzido,<br />

nas páginas dos jornais 287 .<br />

A compreensão <strong>de</strong>ssa circularida<strong>de</strong> discursiva, ou melhor,<br />

do interdiscurso, abre a possibilida<strong>de</strong> ainda <strong>de</strong> problematizar outra<br />

dimensão da relação entre contextos e textos (históricos e jornalísticos)<br />

sob a perspectiva temática da migração. Em outras palavras, é<br />

possível perscrutar nessa circularida<strong>de</strong> os significados que vão sendo<br />

(re)construídos por meio do cruzamento <strong>de</strong> olhares sobre a realida<strong>de</strong> que<br />

os autores <strong>de</strong>screvem e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m, mediados igualmente por disputas,<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> saber, <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, os quais igualmente cruzam a cida<strong>de</strong><br />

que analisam.<br />

Retomo a obra <strong>de</strong> Gruner. Já <strong>de</strong>staquei que em sua análise<br />

interpretativa, cujas fontes englobaram escritos da imprensa das décadas<br />

<strong>de</strong> 1970 e <strong>1980</strong>, os <strong>migrante</strong>s são vistos como <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> “mal<br />

necessário”. Os efeitos colaterais <strong>de</strong> sua presença <strong>de</strong>mandaram “práticas<br />

discursivas” capazes <strong>de</strong> incorporá-los, eliminando, ao mesmo tempo, o<br />

que neles era i<strong>de</strong>ntificado como “elemento <strong>de</strong>sestabilizador” 288 . Disso,<br />

segundo o autor, se explica como nesses discursos, por um lado, o<br />

passado da cida<strong>de</strong> se firma como “tradição”, ambos acionados pelos<br />

“dispositivos étnicos teuto-brasileiros” 289 , e por outro lado se constroem<br />

os sentidos estigmatizantes da presença <strong>migrante</strong>.<br />

286 ORLANDI, Eni Puccinelli. Op. cit. p. 30.<br />

287 Para fundamentar a afirmação, recorro à polêmica entre Dilney Cunha e Apolinário<br />

Ternes, conforme estudado por MACHADO, Diego Fin<strong>de</strong>r. Op. cit. Outros historiadores,<br />

além <strong>de</strong> Niehues e Meurer, conforme já <strong>de</strong>staquei, possuem artigos publicados no jornal<br />

A Notícia, explicitando seus posicionamentos sobre temas variados. Nas duas décadas que<br />

pesquisei encontrei reportagens que citaram trabalhos recentes e artigos escritos pelos próprios<br />

historiadores, entre os quais Afonso Imhof, Raquel S. Thiago, Sandra Gue<strong>de</strong>s, Janine Gomes<br />

da Silva etc.<br />

288 GRUNER, Clóvis. Op. cit. p. 144.<br />

289 Conforme suas palavras, trata-se <strong>de</strong> “discurso sobre a história – embora não, necessariamente,<br />

um discurso histórico”. Id. Ibid.

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