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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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territórios e fronteiras que, diferenciando os joinvilenses dos <strong>migrante</strong>s,<br />

criam, ao mesmo tempo, critérios para a inclusão dos segundos 281 .<br />

N<strong>uma</strong> análise bastante instigante, Gruner <strong>de</strong>senreda os estigmas<br />

sobre o <strong>migrante</strong> que vão sendo construídos pelas linhas e entrelinhas dos<br />

discursos da imprensa. Aponta que os temas relacionados a <strong>de</strong>linquência,<br />

violência e criminalida<strong>de</strong> imputam como causa principal os “forasteiros”,<br />

especialmente os paranaenses, que chegam e vagueiam pela cida<strong>de</strong>. Mas,<br />

ao mesmo tempo, tais estigmas servem para estabelecer a “positivida<strong>de</strong>”<br />

pela qual os <strong>migrante</strong>s po<strong>de</strong>riam ser integrados à história e à tradição local.<br />

Trata-se dos “valores normativos” voltados à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que se quer fixar<br />

no tempo e no espaço e à incorporação do “habitus do ‘povo trabalhador,<br />

alegre e feliz’” 282 .<br />

Afirma que os <strong>migrante</strong>s teriam internalizado esses “valores<br />

normativos” e lança a seguinte indagação: “<strong>uma</strong> estratégia inconsciente<br />

<strong>de</strong> sobrevivência ou, tão simplesmente, <strong>uma</strong> a<strong>de</strong>são voluntária, [...], que<br />

traduz <strong>uma</strong> tentativa <strong>de</strong> aceitação e <strong>de</strong>sestigmatização?”. Sua hipótese é <strong>de</strong><br />

que nenh<strong>uma</strong> das alternativas está correta, pois, “se o po<strong>de</strong>r é operacional,<br />

microfísico, po<strong>de</strong>-se dizer o mesmo das transgressões e das resistências”.<br />

Segundo pensa, “integrar-se à cida<strong>de</strong> e, ao mesmo tempo, imprimir<br />

nela seus traços, talvez tenha sido <strong>uma</strong> forma que alguns [grifos meus]<br />

encontraram para tentar equilibrar o jogo <strong>de</strong> forças” 283 .<br />

Embora sua resposta possa suscitar interpretações diversas acerca do<br />

que, <strong>de</strong> fato, significaria “integrar-se”, procuro aí explorar outra dimensão<br />

que, mesmo não sendo discordante, permite colocar em causa as práticas<br />

e representações dos próprios <strong>migrante</strong>s sobre seu passado e presente que,<br />

penso, também atravessam o cotidiano e a história da cida<strong>de</strong>. Práticas e<br />

representações não apenas ligadas – concordando com Gruner –, que se dão<br />

a ler como resistências, transgressões e também como criações, invenções<br />

e hibridismos que se <strong>de</strong>senrolam nos espaços (físicos ou simbólicos) on<strong>de</strong>,<br />

mais <strong>uma</strong> vez lembrando Flores e Campos, a “vida acontece” 284 .<br />

281 GRUNER, Clóvis. Op. cit. p. 146.<br />

282 Id. Ibid. p. 148.<br />

283 Id. Ibid.<br />

284 Não me proponho a produzir, no capítulo III, <strong>uma</strong> escrita histórica com a intenção <strong>de</strong> falar<br />

em nome dos <strong>migrante</strong>s, sujeitos cujas práticas, segundo a interpretação <strong>de</strong> Gruner, parecemme<br />

ficar enevoadas pelo po<strong>de</strong>r normativo ou submetidas à lógica <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização imposta,<br />

<strong>de</strong> modo que surjam como sujeitos transgressores e resistentes. Motivada pelas palavras <strong>de</strong><br />

Canevacci, procuro a polifonia da cida<strong>de</strong>, aí incluindo a minha própria voz como historiadora.<br />

CANEVACCI, Massimo. entrevista concedida para Júlia aguiar. Disponível em: . Acesso em:<br />

30 ago. 2007.

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