08.05.2013 Views

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

233<br />

Em segundo lugar, objetiva “on<strong>de</strong>, no interior mesmo do projeto<br />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização levado a cabo em <strong>Joinville</strong>, instaurou-se a face da<br />

barbárie” 267 .<br />

Por certo pela leitura <strong>de</strong> sua obra se tem conta da originalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sua análise. Partindo do evento <strong>de</strong> comemoração do primeiro centenário<br />

da cida<strong>de</strong> (9 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1951), Gruner discute os discursos da imprensa<br />

e da historiografia, focalizando neles os movimentos <strong>de</strong> (re)composição<br />

da “memória oficial”, norteados pelos esforços em afirmar e atribuir<br />

<strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica à cida<strong>de</strong> que a elite <strong>de</strong>sejava disciplinar 268 . Em<br />

seguida, faz <strong>uma</strong> análise do processo <strong>de</strong> industrialização e urbanização,<br />

com <strong>de</strong>staque aos anos <strong>de</strong> 1960, que, segundo sua avaliação, constituiu<br />

um momento <strong>de</strong>cisivo <strong>de</strong> impulso ao projeto <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização.<br />

Na “cida<strong>de</strong> menina”, como então é <strong>de</strong>nominada pela imprensa, o<br />

planejamento da or<strong>de</strong>nação espacial revela como vão sendo construídas<br />

fronteiras simbólicas que nomeiam novos padrões morais e <strong>de</strong><br />

comportamento: “Estabelece-se, a partir do ‘centro’, aquilo que está à<br />

sua margem e que é preciso integrar – ou simplesmente excluir” 269 .<br />

Baseando-se em Marshall Berman, Gruner diz que a “aventura<br />

da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> [...] revela as duas faces <strong>de</strong> um sonho: é agradável<br />

<strong>de</strong>vaneio e fantasia, mas também pesa<strong>de</strong>lo; é a um só tempo fortuna e<br />

vertigem” 270 . Dessa perspectiva, aborda a migração e afirma que a partir<br />

da década <strong>de</strong> 1960 os <strong>migrante</strong>s começam a movimentar a cida<strong>de</strong> no<br />

ritmo da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, sinalizando que a relação com o tempo não é<br />

mais com o passado e sim com o sonho <strong>de</strong> um “imprevisível amanhã” 271 .<br />

No centro do sonho: o trabalho – passaporte para o futuro, para o<br />

progresso. Segundo suas palavras:<br />

267 GRUNER, Clóvis. Op. cit.<br />

No imaginário local, o trabalho, conjugado a <strong>uma</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> originária, fixada em algum lugar do<br />

passado, mas presente na memória oficial da<br />

cida<strong>de</strong> foi parte da constituição e legitimação <strong>de</strong><br />

268 Uma crítica em tom bastante ácido é dirigida aos historiadores (seja àqueles por ofício,<br />

seja aos acadêmicos e profissionais) pela forma como não romperam o circuito da reprodução<br />

da memória oficial em seus trabalhos. Ao contrário, direta ou indiretamente legitimaram tal<br />

memória e como consequência o próprio exercício <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r da elite local.<br />

269 GRUNER, Clóvis. Op. cit. p. 65.<br />

270 Id. Ibid.<br />

271 Id. Ibid. p. 66.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!