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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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introdUção<br />

Vivemos num tempo atônito que ao <strong>de</strong>bruçar-se<br />

sobre si próprio <strong>de</strong>scobre que os seus pés são<br />

um cruzamento <strong>de</strong> sombras, sombras que vêm<br />

do passado que ora pensamos já não sermos,<br />

ora pensamos não termos ainda <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> ser,<br />

sombras que vêm do futuro que ora pensamos já<br />

sermos, ora pensamos nunca virmos a ser.<br />

BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS 1<br />

A epígrafe que escolhi para apresentar este trabalho procura<br />

exprimir as ansieda<strong>de</strong>s que marcaram o meu longo percurso na<br />

<strong>de</strong>finição do tema e do problema que proponho aqui estudar. Tais<br />

ansieda<strong>de</strong>s não dizem respeito somente aos sentimentos recorrentes que<br />

vêm assombrando as vivências contemporâneas, diante da perda da<br />

confortável sensação generalizada que proporcionava a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> tempo<br />

linear e <strong>de</strong> fixi<strong>de</strong>z do espaço. Minha relação com o tema é bem mais<br />

visceral. Como paulistana migradora 2 , a mudança <strong>de</strong> um local a outro<br />

sempre fez parte das contingências da minha vida familiar. Entretanto,<br />

nos últimos tempos, minha moradia <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> se <strong>de</strong>slocar.<br />

O fato <strong>de</strong> eu habitar <strong>uma</strong> cida<strong>de</strong> durante vinte anos talvez sugira<br />

ao leitor que as sombras do meu passado <strong>de</strong> perambulação pu<strong>de</strong>ssem ter<br />

sido dispersadas. Ledo engano. Aparentemente em <strong>Joinville</strong> fixei raízes:<br />

edifiquei casa e tive filho. Porém viver na cida<strong>de</strong> contemporânea 3 , mesmo<br />

1 SANTOS, Boaventura <strong>de</strong> Sousa. Um discurso sobre as ciências na transição para <strong>uma</strong> ciência<br />

pós-mo<strong>de</strong>rna. estudos avançados, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 46-71, 1988. p. 46.<br />

2 Utilizo o termo, mesmo sob protesto <strong>de</strong> meus revisores, para atribuir à frase <strong>uma</strong> maior<br />

periodicida<strong>de</strong> do ato <strong>de</strong> migrar.<br />

3 Categoria que adotei com base na leitura do trabalho <strong>de</strong> Emerson César <strong>de</strong> Campos sobre<br />

a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Criciúma entre <strong>1980</strong> e 2002. A <strong>de</strong>marcação temporal estabelecida pelo autor foi<br />

o motivo inicial que me levou a sua obra. Do primeiro contato, outras semelhanças com a<br />

minha temática foram reconhecidas. Do segundo e terceiro contatos, outras semelhanças foram<br />

por mim propositalmente construídas. CAMPOS, Emerson César <strong>de</strong>. territórios <strong>de</strong>slizantes:<br />

recortes, miscelâneas e exibições na cida<strong>de</strong> contemporânea – Criciúma (SC) (<strong>1980</strong>-2002). 2003,<br />

235 f. Tese (Doutorado em História) – Centro <strong>de</strong> Filosofia e Ciências H<strong>uma</strong>nas, Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina, Florianópolis, 2003. p. 31.

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