08.05.2013 Views

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

229<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> teria feito <strong>de</strong>la um sistema racional, “objeto passível <strong>de</strong><br />

planificação, apreendido em sua totalida<strong>de</strong>”. Os principais construtores<br />

<strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo teriam sido os higienistas, médicos e engenheiros que<br />

científica e tecnicamente “esquadrinham a cida<strong>de</strong> e visibilizam os<br />

corpos dos cidadãos para ter sobre eles o controle sobre sua saú<strong>de</strong>, sua<br />

moradia, seus passos [...], seu trabalho, seu lazer e sua sociabilida<strong>de</strong>,<br />

suas organizações sociais e políticas, seu consumo” 250 .<br />

Todavia esse mo<strong>de</strong>lo concebido e praticado entra em crise à<br />

medida que os fluxos globais (não apenas <strong>de</strong> pessoas, mas também <strong>de</strong><br />

informações e <strong>de</strong> mercadorias) das últimas décadas do século XX colocam<br />

em xeque a fixi<strong>de</strong>z das cartografias do espaço e dos mapeamentos<br />

culturais urbanos, entre os quais se pressupunham haver <strong>uma</strong> relação<br />

<strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência. Citando Akil Gupta e James Ferguson, os autores<br />

afirmam que “as manifestações culturais per<strong>de</strong>ram suas amarras a<br />

lugares <strong>de</strong>finidos” e, nessa flui<strong>de</strong>z, as diferenças e as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s já<br />

“não po<strong>de</strong>m ser analisadas tendo-se como referência a distância, quase<br />

sempre apresentada em metros, ou quilômetros” 251 . Diante <strong>de</strong> tempos e<br />

espaços entrecruzados nas práticas citadinas, “amplia-se a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong><br />

novas referências” 252 para se pensar a cida<strong>de</strong>.<br />

No meu ponto <strong>de</strong> vista, o livro <strong>de</strong> Clóvis Gruner 253 , publicado em<br />

2003, é emblemático nessa discussão, pois vai à cata da lógica e das<br />

intenções que estão por trás dos projetos e discursos dos planejadores<br />

urbanos que visam or<strong>de</strong>nar e disciplinar a cida<strong>de</strong>, povoada por<br />

forasteiros e <strong>migrante</strong>s, os quais por sua vez são, pelas páginas dos<br />

jornais, representados por meio <strong>de</strong> adjetivações vocabulares e imagens<br />

um tanto negativas. Sob o olhar <strong>de</strong> Gruner, entretanto, as práticas do<br />

que consi<strong>de</strong>ra sujeitos “marginais” sinalizam as resistências perante<br />

o po<strong>de</strong>r das elites que estão no “centro” e que <strong>de</strong>têm a posse sobre o<br />

processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização, sobre o presente e futuro urbanos.<br />

Parece-me que a cida<strong>de</strong>, para Gruner, emerge como território<br />

muito mais sob vigilância e como objeto controlável pelas elites e menos<br />

como lugar on<strong>de</strong> a “vida acontece”, não apenas sob a estratégia dos<br />

dominadores, mas também sob as táticas ordinárias dos dominados,<br />

ou seja, como apropriação daqueles que, mesmo <strong>de</strong>sconhecendo as<br />

250 CAMPOS, Emerson César <strong>de</strong>; FLORES, Maria Bernar<strong>de</strong>te Ramos. Op. cit. p. 269.<br />

251 Id. Ibid. p. 272.<br />

252 Id. Ibid. p. 271.<br />

253 GRUNER, Clóvis. Op. cit.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!