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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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226<br />

Na entrevista retomei a passagem, indagando-lhe sobre<br />

a inusitada quebra da “objetivida<strong>de</strong>” histórica que permeou<br />

intencionalmente a escrita das duzentas e trinta e duas páginas<br />

anteriores <strong>de</strong> sua dissertação. Niehues confessou que foi extremamente<br />

doloroso se encontrar nos relatos dos seus entrevistados. Teve <strong>de</strong><br />

parar o trabalho por dois meses a fim <strong>de</strong> recuperar a necessária<br />

distância exigida ao historiador para a interpretação dos fatos. As<br />

transcrições teriam provocado audições repetitivas e revelariam<br />

<strong>de</strong>talhes que se misturavam com as suas próprias lembranças <strong>de</strong><br />

<strong>migrante</strong> 238 .<br />

Ao indagar-lhe também sobre o seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> saber e sobre<br />

para quem <strong>de</strong>stinava o seu trabalho, Niehues explicitou que, além <strong>de</strong><br />

buscar contrapor-se à “história oficial”, teria escrito para ela mesma,<br />

para tentar pôr termo à intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus próprios questionamentos<br />

sobre o mundo do trabalho e sobre os <strong>de</strong>sajustamentos dos <strong>migrante</strong>s<br />

na cida<strong>de</strong>. Afirmando que, embora não se questione mais a migração<br />

como fato histórico, há perguntas que <strong>de</strong>vem ser respondidas, pois<br />

“a diversida<strong>de</strong> é ainda só discurso... não é aceita pelo po<strong>de</strong>r” 239 .<br />

Lembrei-a, nessa altura, que vários <strong>migrante</strong>s passaram a ocupar,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> meados dos anos <strong>1980</strong>, postos da administração direta e indireta<br />

do município 240 . Enfaticamente respon<strong>de</strong>u que o po<strong>de</strong>r continuava na<br />

mão <strong>de</strong> quem sempre o teve, ou seja, dos empresários “germanizados”<br />

não pela história, mas pela economia, pela indústria 241 .<br />

Para além das explicações que espraiam percepções<br />

essencialistas ou mesmo afirmações enredadas no que chamo <strong>de</strong><br />

movimento <strong>de</strong> etnicização da historiografia local, Niehues tem, no<br />

meu ponto <strong>de</strong> vista, o mérito <strong>de</strong> discutir a migração e os <strong>migrante</strong>s<br />

como problemática que <strong>de</strong>sestabiliza discursos <strong>de</strong> <strong>uma</strong> história linear<br />

e progressista. Insta as representações historiográficas que imputam<br />

aos i<strong>migrante</strong>s europeus do século XIX o sentido primordial dos<br />

<strong>de</strong>slocamentos espaciais que atravessam a socieda<strong>de</strong> joinvilense.<br />

Promove, por fim, com seus questionamentos, lacunas que motivam,<br />

238 NIEHUES, Val<strong>de</strong>te Daufemback, 2009. Op. cit.<br />

239 Id. Ibid.<br />

240 Niehues ocupa atualmente o cargo <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadora do Arquivo Histórico <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. Além<br />

<strong>de</strong>ssa função, é professora universitária e, durante 2008, manteve semanalmente <strong>uma</strong> coluna<br />

<strong>de</strong> opinião no jornal A Notícia.<br />

241 NIEHUES, Val<strong>de</strong>te Daufemback, 2009. Op. cit.

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