08.05.2013 Views

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

225<br />

sua fala, a <strong>de</strong>gradação parece não ser objeto <strong>de</strong> reflexão crítica dos<br />

próprios trabalhadores.<br />

Optou por libertar-se do espaço fabril, abrindo <strong>uma</strong> sala <strong>de</strong><br />

costura própria. Teve filhos, cuidou <strong>de</strong>les e da casa. Anos mais tar<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>cidiu retomar os estudos. Graduou-se em História e fez um curso <strong>de</strong><br />

especialização em Itajaí. Foi nesse momento que iniciou aca<strong>de</strong>micamente<br />

sua investigação, pois o envolvimento com movimentos sociais <strong>de</strong><br />

bairros e sua atuação no Centro <strong>de</strong> Direitos H<strong>uma</strong>nos já lhe haviam<br />

permitido conhecer as “pegadas” 235 <strong>de</strong>ixadas pela migração.<br />

Em que pese o fato <strong>de</strong> Niehues <strong>de</strong>sejar “dar voz aos vencidos”,<br />

a sua escrita, contrastando com sua intenção, parece reforçar a voz<br />

(vitoriosa) dos vencedores sobre os vencidos. No meu ponto <strong>de</strong> vista,<br />

na interpretação que faz das narrativas <strong>de</strong> seus entrevistados, ruídos <strong>de</strong><br />

suas próprias lembranças tornam quase inaudíveis as subjetivida<strong>de</strong>s das<br />

vozes dos <strong>migrante</strong>s que ouve 236 . Isso porque a operação historiográfica<br />

<strong>de</strong> Niehues traz consigo o compromisso <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver e evi<strong>de</strong>nciar<br />

os ressentimentos que obstaram o (re)enraizamento do <strong>migrante</strong> no<br />

meio urbano, incluindo, penso eu, especialmente os seus próprios<br />

ressentimentos e sentidos <strong>de</strong> pertencimento em relação à cida<strong>de</strong>. O<br />

leitor po<strong>de</strong> questionar sobre as razões <strong>de</strong>ssa minha observação: até que<br />

ponto isso teria ficado explícito?<br />

No parágrafo final da dissertação, Niehues assim se expressa:<br />

235 NIEHUES, Val<strong>de</strong>te Daufemback, 2009. Op. cit.<br />

Ao elaborar este trabalho, <strong>uma</strong> página da história<br />

da autora foi virada. Nas memórias vivas dos<br />

<strong>migrante</strong>s, nas histórias dos simples, foi tocada<br />

pelas lembranças <strong>de</strong> seu próprio passado <strong>de</strong> sonhos<br />

e <strong>de</strong> labuta, <strong>de</strong> experiências vividas no campo e<br />

na cida<strong>de</strong>. A proposta <strong>de</strong> dar voz ao trabalhador e<br />

<strong>de</strong>volver a sua história, significou dar visibilida<strong>de</strong><br />

às contradições no mundo do trabalho encobertas<br />

pelos cânones da história tradicional 237 .<br />

236 Ou seja, como lembranças sobre trajetórias, táticas <strong>de</strong> sobrevivência, processos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação<br />

e percepções diante das diferenças enfrentadas no meio urbano. Não busca nem explica pela voz<br />

do que consi<strong>de</strong>ra vencidos seus papéis <strong>de</strong> protagonistas ou mesmo <strong>de</strong> coadjuvantes da história<br />

da cida<strong>de</strong>. São, ao contrário, pela inescapabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>terminações históricas, sujeitos<br />

passivos, assujeitados pelo sistema, por isso <strong>de</strong>sajustados e <strong>de</strong>senraizados no espaço urbano.<br />

237 NIEHUES, Val<strong>de</strong>te Daufemback, 2000. Op. cit. p. 233.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!