08.05.2013 Views

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

224<br />

da cida<strong>de</strong>. Recordando-se da contenda entre dois historiadores que<br />

consistiu n<strong>uma</strong> disputa sobre a “verda<strong>de</strong>ira” nacionalida<strong>de</strong> da maioria<br />

dos primeiros i<strong>migrante</strong>s (alemães ou suíços), ficavam <strong>de</strong> lado os<br />

problemas da “cida<strong>de</strong>-trabalho”, da “cida<strong>de</strong>-indústria”, <strong>de</strong>sprovida da<br />

vivacida<strong>de</strong> das cores, “fechada” e “silenciosa”. O “real” joinvilense<br />

exigia outra história, <strong>uma</strong> “história vista por baixo”, que <strong>de</strong>nunciasse<br />

o sofrimento dos “vencidos”, trabalhadores <strong>migrante</strong>s 232 .<br />

A escolha do tema <strong>de</strong> sua pesquisa fora motivada pelos<br />

questionamentos abertos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua chegada a <strong>Joinville</strong>, em 1971. Veio<br />

sozinha, “com a cara e com a coragem”. Trouxe apenas o en<strong>de</strong>reço <strong>de</strong><br />

<strong>uma</strong> conhecida <strong>de</strong> sua mãe, proprietária <strong>de</strong> <strong>uma</strong> pensão. As primeiras<br />

impressões contradiziam o que ouvira falar por parte do pároco da<br />

Igreja <strong>de</strong> sua cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem. Dizia ele em seus sermões que São<br />

Ludgero não <strong>de</strong>veria se industrializar, pois on<strong>de</strong> há indústria há<br />

pobreza e feiúra. Não era isso que ela constatava nas suas primeiras<br />

incursões pela cida<strong>de</strong>. Com receio <strong>de</strong> se per<strong>de</strong>r, elegia alguns pontos <strong>de</strong><br />

referência. Entre as casas bonitas, o primeiro ponto memorizado foi o<br />

Museu Nacional <strong>de</strong> Imigração. Foi lá que, pela primeira vez, encontrou<br />

a história da cida<strong>de</strong>. Porém explica ela que era <strong>uma</strong> “história oficial”,<br />

ou seja, aquela produzida sob encomenda, financiada por empresas,<br />

cuja finalida<strong>de</strong> também era encomendada 233 .<br />

Depois <strong>de</strong> um mês conseguiu emprego. Trabalhou como<br />

costureira em duas empresas e confessa que foi <strong>uma</strong> experiência<br />

bastante dolorosa. Lembra que não podia conversar ou mesmo ir ao<br />

banheiro quando <strong>de</strong>sejasse 234 .<br />

A lembrança daqueles dias foi narrada pela historiadora<br />

com <strong>de</strong>talhes, levando-me a problematizar alg<strong>uma</strong>s questões que<br />

atravessavam o lugar social <strong>de</strong> on<strong>de</strong> partia sua escrita histórica. Disseme<br />

que apenas quem vive ou viveu o “chão <strong>de</strong> fábrica” tem a dimensão<br />

do quão <strong>de</strong>s<strong>uma</strong>nas são as relações <strong>de</strong> trabalho na indústria. O espaço<br />

fabril é um espaço fechado, sem janelas, opressor, e as relações que<br />

se estabelecem são mediadas pelo medo, pelo silêncio, pela ausência<br />

<strong>de</strong> cordialida<strong>de</strong> entre os próprios trabalhadores. Lá, ainda segundo<br />

ela, não se sonha ou pensa. Busca-se apenas a meta da produção. Em<br />

232 NIEHUES, Val<strong>de</strong>te Daufemback, 2009. Op. cit.<br />

233 Id. Ibid.<br />

234 Id. Ibid.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!