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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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223<br />

Recortando e fazendo uso <strong>de</strong> outra citação <strong>de</strong> Niehues, Groth<br />

conclui a reportagem:<br />

O povo local tem um semblante triste, fruto<br />

da cultura <strong>de</strong> fábrica. “Quando os i<strong>migrante</strong>s<br />

chegaram à <strong>Joinville</strong> buscaram refúgio na alegria<br />

da cultura, das danças, do teatro, canto e música.<br />

Por que não fomentar isso nos bairros por meio <strong>de</strong><br />

centros permanentes <strong>de</strong> cultura? Locais on<strong>de</strong> as<br />

crianças tenham acesso a boas bibliotecas e criem<br />

o hábito da pesquisa e da leitura, on<strong>de</strong> possam<br />

ampliar os horizontes e não ficar à mercê da<br />

ignorância?” 231 .<br />

Como se vê, o campo <strong>de</strong> batalha no qual se colocam em jogo os<br />

discursos sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a diferença na cida<strong>de</strong> é contraditório e<br />

hesitante, pois explicita a intenção <strong>de</strong> interromper repetições que trazem<br />

consigo a fixi<strong>de</strong>z da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> joinvilense, legitimada pelo passado<br />

imigrantista, e ao mesmo tempo busca referenciar o vir a ser <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> a ser talhada <strong>de</strong> forma benevolente e não menos carregada<br />

por <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> normalização.<br />

Alissom e seu pai, em vez <strong>de</strong> jogar bilhar, <strong>de</strong>veriam ser livrados<br />

da ignorância. Nesse caso, não é posta em causa a irredutível diferença<br />

que os <strong>migrante</strong>s protagonizam. Ao contrário, as citações que a jornalista<br />

usa em movimentos <strong>de</strong> repetição discursiva a auxiliam na empreitada<br />

<strong>de</strong> (re)produzir , em sintonia, os novos e emergentes termos <strong>de</strong> Niehues<br />

e <strong>de</strong> outros do seu tempo.<br />

Além disso, a concepção <strong>de</strong> cultura como letramento e artes<br />

que atravessa o discurso vitima duplamente os “<strong>de</strong>senraizados”, agora<br />

consi<strong>de</strong>rados os “sem cultura”; além disso, qualificando genérica e<br />

negativamente a população da periferia, <strong>de</strong>lega ao po<strong>de</strong>r público o papel<br />

<strong>de</strong> fomentar e estabelecer as bases para <strong>uma</strong> nova i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> urbana,<br />

mais condizente com a imagem positiva da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> interrompida.<br />

Em entrevista que realizei com Niehues, perguntei-lhe como e por<br />

que os discursos sobre a comemoração do sesquicentenário da cida<strong>de</strong><br />

afetaram suas interpretações historiográficas. Disse-me que, naquele<br />

contexto, lhe causava indignação o fato <strong>de</strong> que as discussões sobre<br />

a diversida<strong>de</strong> cultural <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> eram vazias, pois se restringiam<br />

às características étnicas dos pioneiros e não consi<strong>de</strong>ravam o “real”<br />

231 GROTH, Marlise, 1999b. Op. cit.

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