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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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moradores do centro. Uma cida<strong>de</strong> bonita que, ao<br />

mesmo tempo, lhes oferece um dia-a-dia amargo e<br />

on<strong>de</strong> o centro aparece como área privilegiada. Vivem<br />

<strong>uma</strong> realida<strong>de</strong> que muito joinvilense não conhece.<br />

“Uma periferia empobrecida que estava mascarada<br />

e que agora começa a aparecer próxima da rodovia”,<br />

<strong>de</strong>staca a historiadora Val<strong>de</strong>te Daufemback 226 .<br />

Nos “bairros <strong>de</strong> <strong>migrante</strong>s”, “costumes” próprios existiriam,<br />

porém bastante distantes das tradições dos moradores com “raízes”<br />

[entenda-se aí as raízes normalizadas, quer pela história da cida<strong>de</strong>, quer<br />

pelo seu próprio discurso jornalístico]. Afirma que, da mesma forma<br />

que na Estrada Bonita 227 os moradores ensinam os filhos e os netos a<br />

produzir o queijo e o melado e a cuidar dos animais, no loteamento<br />

Estevão <strong>de</strong> Mattos 228 os costumes também são ensinados, porém são<br />

bem diferentes. O exemplo esclarecedor era o do menino Alissom (filho<br />

<strong>de</strong> um <strong>migrante</strong> caminhoneiro), que, aos “dois anos, já tem noções <strong>de</strong><br />

como segurar o taco <strong>de</strong> bilhar e qual bola <strong>de</strong>ve acertar entre as coloridas<br />

que estão na mesa” 229 .<br />

Parece-me que o seu discurso jornalístico procura, <strong>de</strong> um<br />

lado, interromper a fixi<strong>de</strong>z, suportada nesse caso pela <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong><br />

<strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> representada nas tradições da Estrada Bonita, e, por<br />

outro lado, expor a diferença como fato constatado a ser <strong>de</strong>vidamente<br />

reconhecido (fixado), enquanto evidência inquestionável da diversida<strong>de</strong><br />

urbana. Metaforicamente, é possível dizer que na musicalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sua <strong>de</strong>scrição sobre a diferença, protagonizada pelos <strong>de</strong>senraizados<br />

<strong>migrante</strong>s, busca produzir <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> nova letra para <strong>uma</strong> velha e<br />

harmônica melodia a ser ouvida 230 .<br />

226 GROTH, Marlise. Op. cit.<br />

227 Trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> região voltada ao turismo rural que se situa a 23 quilômetros do centro<br />

<strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>.<br />

228 Loteamento integrante do bairro Paranaguamirim, localizado na zona su<strong>de</strong>ste da cida<strong>de</strong>.<br />

PREFEITURA MUNICIPAL DE JOINVILLE. Fundação Instituto <strong>de</strong> Pesquisa e Planejamento<br />

para o Desenvolvimento Sustentável <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. <strong>Joinville</strong> bairro a bairro: 2006. <strong>Joinville</strong>:<br />

IPPUJ, 2006.<br />

229 GROTH, Marlise. Op. cit.<br />

230 O recurso a essa metáfora não é original. Alguns meses antes, Groth, ao fazer a cobertura<br />

do lançamento do projeto <strong>de</strong> comemoração do sesquicentenário da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>stacou as palavras<br />

do presi<strong>de</strong>nte da comissão organizadora, empresário Udo Döhler. Ao explicitar a importância<br />

dos eventos, programados para 2001, para o os cidadãos joinvilenses dizia: “Queremos que a<br />

canção do aniversário da cida<strong>de</strong> seja cantada por 400 mil pessoas”. GROTH, Marlise. Cida<strong>de</strong><br />

abre a programação dos 150 anos. a notícia, <strong>Joinville</strong>, 10 mar. 1999a. AN Cida<strong>de</strong>, p. 1.

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