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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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220<br />

as múltiplas e plurais vivências <strong>de</strong> diferenças e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificações<br />

urbanas.<br />

Há outra dimensão da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> hibridismo, agora proposta em Silva,<br />

que permite evi<strong>de</strong>nciar o que caracteriza toda a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: “a experiência<br />

do ‘não sentir-se em casa’”. Os <strong>migrante</strong>s, ao exporem a diferença como<br />

processo não <strong>de</strong>terminado “unilateralmente, pela i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> hegemônica”<br />

(naturalizada), acabam por instar e <strong>de</strong>safiar ainda mais os sentimentos <strong>de</strong><br />

pertencimento urbano. Cruzar fronteiras ou “estar na fronteira” englobaria<br />

não apenas a mobilida<strong>de</strong> espacial, mas também o “mover-se livremente<br />

entre os territórios simbólicos <strong>de</strong> diferentes i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s” 216 .<br />

Nesse ponto, ganham também importância as palavras <strong>de</strong> Zygmunt<br />

Ba<strong>uma</strong>n, para o qual “o campo <strong>de</strong> batalha é o lar natural da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>”,<br />

pois para os sujeitos se trata sempre “<strong>de</strong> luta simultânea entre a dissolução<br />

e a fragmentação; <strong>uma</strong> intenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>vorar e ao mesmo tempo <strong>uma</strong> recusa<br />

resoluta a ser <strong>de</strong>vorado” 217 .<br />

Por estarem estreitamente ligadas a sistemas <strong>de</strong> significação,<br />

é necessário questionar, por outro lado, os suportes que sustentam as<br />

representações das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. No que tange aos processos discursivos,<br />

não bastaria <strong>de</strong>screver como as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s são fixadas. Adverte Silva:<br />

“O que esquecemos é que aquilo que dizemos faz parte <strong>de</strong> <strong>uma</strong> re<strong>de</strong> mais<br />

ampla <strong>de</strong> atos lingüísticos que, em seu conjunto, contribui para <strong>de</strong>finir ou<br />

reforçar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que supostamente apenas estamos <strong>de</strong>screvendo” 218 .<br />

Descrever seria <strong>uma</strong> forma não apenas <strong>de</strong> traçar, mas <strong>de</strong> fortalecer o que<br />

po<strong>de</strong> ou não continuar sendo.<br />

Chamando atenção para as questões que envolvem “recorte” e<br />

uso das citações, Silva <strong>de</strong>staca ainda que as repetições narrativas são<br />

eficazes para a vitalida<strong>de</strong> das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s hegemônicas e também para a<br />

sua contestação: “A repetição po<strong>de</strong> ser questionada e contestada. É nessa<br />

interrupção que resi<strong>de</strong>m as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> instauração <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />

que não representem simplesmente a reprodução das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

existentes” 219 . Interromper um processo <strong>de</strong> repetição, mesmo que se lance<br />

mão <strong>de</strong> novas repetições, seria <strong>uma</strong> possibilida<strong>de</strong> para “pensar a produção<br />

<strong>de</strong> novas e renovadas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s” 220 .<br />

As questões que envolvem os discursos sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a<br />

diferença têm implicações que consi<strong>de</strong>ro muito pertinentes para a análise<br />

216 SILVA, Tomaz Ta<strong>de</strong>u da. Op. cit. p. 73.<br />

217 BAUMAN, Zygmunt. i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 83.<br />

218 SILVA, Tomaz Ta<strong>de</strong>u da. Op. cit. p. 93.<br />

219 Id. Ibid. p. 95.<br />

220 Id. Ibid. p. 96.

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