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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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219<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> quanto a diferença (compreendida, aqui, como resultado)<br />

são produzidas” 213 .<br />

Ao não percebê-las como relações sociais, permeadas por relações<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e disputas e sim como resultados, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e diferença são<br />

vislumbradas por Niehues <strong>de</strong> forma binária e exclu<strong>de</strong>nte. Mesmo que<br />

afirme que sob a representação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>, enquanto<br />

“cida<strong>de</strong> das flores”, há <strong>uma</strong> construção i<strong>de</strong>ológica <strong>de</strong> falseamento,<br />

penso que ela acaba por normalizar e hierarquizar arbitrariamente <strong>uma</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> – “cida<strong>de</strong>-trabalho” ou “cida<strong>de</strong>-fábrica” – como a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. Eis no fundo o que aproxima a sua interpretação das <strong>de</strong><br />

outros historiadores.<br />

Segundo Silva, seria preciso problematizar as bases dos<br />

binarismos em torno dos quais se organizam a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a diferença,<br />

para perceber que a “força homogeneizadora da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> normal é<br />

diretamente proporcional à sua invisibilida<strong>de</strong>” 214 .<br />

Se “todos os essencialismos nascem do movimento <strong>de</strong> fixação” 215 ,<br />

seria preciso precaver-se da armadilha <strong>de</strong> criticar <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

essencializada, valendo-se dos mesmos pressupostos, instrumentos e<br />

objetivos. No caso <strong>de</strong> Niehues, penso que o vigor da sua crítica se esvai<br />

à medida que opta por produzir, pelo próprio punho, <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

tão essencializada aos <strong>migrante</strong>s e à cida<strong>de</strong> quanto aquelas que busca<br />

achacar.<br />

Ao não consi<strong>de</strong>rar o movimento fluido e móvel das relações<br />

que produzem tanto a diferença quanto a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos moradores<br />

(<strong>migrante</strong>s ou não) da cida<strong>de</strong>, não consegue visualizar os movimentos<br />

que conspiram contra a fixação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que lhe aparece<br />

como normalizada, por meio da qual também lhe permite <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “<strong>de</strong>senraizamento”, “raízes partidas”, “perda <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>” e<br />

“<strong>de</strong>sajustamento” do <strong>migrante</strong>.<br />

Já me referi no Capítulo I à importância da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> hibridismo<br />

para a análise dos processos culturais contemporâneos. Em relação à<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e à diferença, penso que o hibridismo permite apreen<strong>de</strong>r<br />

<strong>Joinville</strong> e os itinerários dos <strong>migrante</strong>s joinvilenses como processos<br />

(e não resultado) marcados por conflitos, interações, interlocuções,<br />

combinações e intercâmbios que, mesmo assimétricos, põem em causa<br />

213 SILVA, Tomaz Ta<strong>de</strong>u da. Op. cit. p. 76.<br />

214 Id. Ibid. p. 83.<br />

215 Id. Ibid. p. 86.

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