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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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vezes sob a vigilância do relógio, como se fosse o prolongamento do<br />

trabalho na fábrica” 206 . Adaptar-se ao “universo urbano” levou muitos<br />

ao adoecimento.<br />

Na interpretação <strong>de</strong> Niehues, o enraizamento assume a função<br />

<strong>de</strong> restabelecer a dimensão h<strong>uma</strong>na do <strong>migrante</strong>. Porém não se trata <strong>de</strong><br />

um processo <strong>de</strong> apropriação da cida<strong>de</strong>, mas <strong>de</strong> certo ajustamento em<br />

relação aos seus padrões <strong>de</strong> comportamento. Para tanto, os <strong>migrante</strong>s<br />

valeram-se “das relações pessoais para ajustar-se aos padrões culturais<br />

da cida<strong>de</strong> que foram assimilados em parte, mas sem esquecer os<br />

costumes adquiridos no local <strong>de</strong> origem” 207 .<br />

Enten<strong>de</strong> que a “Manchester Catarinense” disponibilizou aos<br />

<strong>migrante</strong>s a base <strong>de</strong> sua nova i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, ou seja, a <strong>de</strong> operário. Essa<br />

nova i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> incidiu sobre os caminhos <strong>de</strong> sua integração nas mais<br />

variadas e corriqueiras situações. Entretanto a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> operário<br />

causou, àqueles que essencialmente são agricultores, <strong>de</strong>sajustamentos<br />

que apenas seriam amenizados pela i<strong>de</strong>ia “<strong>de</strong> um dia po<strong>de</strong>r voltar<br />

ao campo” e pela “continuida<strong>de</strong> da observação dos preceitos<br />

religiosos cultivados [...] no local <strong>de</strong> origem” 208 . Por isso, assujeitados<br />

pela mobilida<strong>de</strong> espacial, os <strong>migrante</strong>s estariam con<strong>de</strong>nados a ser<br />

<strong>migrante</strong>s.<br />

A autora não vê as transformações da cida<strong>de</strong> a partir das práticas<br />

e representações vinculadas à migração. Eis outra dimensão vitimada<br />

<strong>de</strong>sses sujeitos no espaço urbano, a qual procurarei, no Capítulo<br />

III, aprofundar. Concebo a cida<strong>de</strong> como obra h<strong>uma</strong>na, ou seja, a<br />

materialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas formas (perfil e silhueta do espaço construído)<br />

comporta as marcas das suas sociabilida<strong>de</strong>s (relações sociais, práticas<br />

<strong>de</strong> interação e <strong>de</strong> oposição, ritos e festas, comportamentos e hábitos),<br />

bem como as percepções e os sentimentos do “viver urbano” 209 .<br />

Não contesto o fato <strong>de</strong> que o <strong>migrante</strong> rural que abandou seu<br />

lugar <strong>de</strong> origem não teria vivenciado sentimentos <strong>de</strong> perda. Porém<br />

penso não ser possível, por meio dos conceitos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senraizamento<br />

206 NIEHUES, Val<strong>de</strong>te Daufemback. Op. cit. p. 189.<br />

207 Id. Ibid. p. 225.<br />

208 Id. Ibid. p. 194. Além disso, conforme suas palavras no final da dissertação, a Igreja,<br />

“enquanto espaço socializador, ocupou <strong>uma</strong> posição estratégica na vida dos <strong>migrante</strong>s, tanto<br />

no sentido <strong>de</strong> reuni-los, confortá-los e/ou aliená-los”. Id. Ibid. p. 231.<br />

209 PESAVENTO, Sandra Jatahy. Cida<strong>de</strong>s visíveis, cida<strong>de</strong>s sensíveis, cida<strong>de</strong>s imaginárias.<br />

revista Brasileira <strong>de</strong> História, São Paulo, v. 27, n. 53, p. 11-23, 2007. p. 12.

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