08.05.2013 Views

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

215<br />

<strong>Joinville</strong> é <strong>uma</strong> cida<strong>de</strong> constituída, em sua<br />

maioria, <strong>de</strong> <strong>migrante</strong>s oriundos principalmente do<br />

campo. No entanto, a diversida<strong>de</strong> cultural parece<br />

não ser reconhecida pelos formadores <strong>de</strong> opinião<br />

que continuam divulgando o caráter germânico<br />

<strong>de</strong> seus habitantes 202 .<br />

O direito ao justo reconhecimento histórico e cultural,<br />

<strong>de</strong>fendido pela autora, a mim soa como <strong>uma</strong> reivindicação sobre<br />

os direitos <strong>de</strong> pertencimento à cida<strong>de</strong>, os quais pensa não po<strong>de</strong>rem<br />

ser cobrados pelos <strong>migrante</strong>s, mas pela escrita histórica ante os<br />

“algozes” que germanizaram, no conjunto, a população. Enten<strong>de</strong> a<br />

germanização como processo <strong>de</strong> opressão, exploração e exclusão<br />

do sistema no âmbito local que transformou o <strong>migrante</strong> rural em<br />

operário.<br />

É oportuno retomar aqui a i<strong>de</strong>ia que venho procurando<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r acerca da etnicização historiográfica como pressuposto<br />

norteador dos historiadores para se contraporem à “história<br />

tradicional” e incluírem novos sujeitos na história da cida<strong>de</strong>.<br />

Penso que a dimensão política da questão migratória palpita nas<br />

linhas e entrelinhas do discurso histórico <strong>de</strong> Niehues quando este<br />

se refere ao reconhecimento da diversida<strong>de</strong> cultural e também<br />

das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais do passado e do presente germânico da<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

Sobre as evidências apresentadas pela autora acerca dos<br />

problemas acarretados pela migração para <strong>Joinville</strong> – ocupações<br />

<strong>de</strong> manguezais, <strong>de</strong>semprego e pauperismo –, há outro aspecto a<br />

consi<strong>de</strong>rar. Penso que Niehues faz ressoar no campo historiográfico<br />

a representação da migração e dos <strong>migrante</strong>s como problema. Os<br />

<strong>migrante</strong>s seriam “corpos fora do lugar” 203 , <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> fatos<br />

vivos distorcidos da cida<strong>de</strong>. Desintegrados, estão (não estando)<br />

nela. A migração, por extensão, constitui um problema para a<br />

cida<strong>de</strong>, para os <strong>migrante</strong>s e para a historiografia. É importante<br />

202 NIEHUES, Val<strong>de</strong>te Daufemback. Op. cit. p. 228.<br />

203 Refiro-me à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>senvolvida por Ab<strong>de</strong>lmalek Sayad sobre o que é o i<strong>migrante</strong>. Ao<br />

consi<strong>de</strong>rar a imigração como objeto <strong>de</strong> investigação, os pesquisadores <strong>de</strong>vem questionar o<br />

pressuposto, bastante recorrente nos estudos, <strong>de</strong> que se trata <strong>de</strong> um “objeto social e politicamente<br />

dominado”. SAYAD, Ab<strong>de</strong>lmalek. imigração ou os paradoxos da alterida<strong>de</strong>. São Paulo:<br />

Edusp, 1998. p. 299.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!