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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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nos anos <strong>1980</strong>, na qual Niehues fundamenta a sua interpretação. Por<br />

conseguinte, a explicação do fenômeno como resultante da combinação<br />

entre fatores <strong>de</strong> repulsão e atração per<strong>de</strong> também vigor à medida que<br />

a “integração” dos <strong>migrante</strong>s na cida<strong>de</strong> não se efetiva conforme as<br />

previsões teóricas. Em tempos <strong>de</strong> intensificação dos fluxos globais,<br />

outras questões passam a <strong>de</strong>safiar o olhar dos estudiosos.<br />

Para Brito, o que se põe em jogo agora é a dimensão política que<br />

a própria migração instituiu, visto que os <strong>migrante</strong>s no meio urbano,<br />

ao se tornarem dispensáveis, se transformaram em “mero objeto das<br />

políticas <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> renda do governo” e, ao mesmo tempo, alvo<br />

<strong>de</strong> crescentes barreiras econômicas e sociais voltadas ao tolhimento da<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> politizar a questão, segundo<br />

pensa, passou a ser um imperativo para elaborar um novo paradigma<br />

que <strong>de</strong>ve levar em conta “o direito à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se mover no território”<br />

e o “direito à não mobilida<strong>de</strong>, à recusa a mobilida<strong>de</strong> forçada, fruto da<br />

violência do Estado ou do capital” 199 .<br />

A problematização do conteúdo da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento,<br />

circunscrito à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> força <strong>de</strong> trabalho, também <strong>de</strong>slocou<br />

a migração do plano econômico para o plano político. Para Brito, além<br />

da isonomia no direito à mobilida<strong>de</strong> espacial, como fundamento do novo<br />

paradigma <strong>de</strong> explicação das migrações internas recentes no Brasil,<br />

é preciso “avançar em direção ao futuro e pensar sob que condições<br />

econômicas e sociais a mobilida<strong>de</strong> espacial po<strong>de</strong> voltar a se articular com<br />

a mobilida<strong>de</strong> social”. Porém não se trata <strong>de</strong> “pensar políticas migratórias,<br />

mas <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r [...] a dimensão política das migrações internas no plano<br />

do direito e da justiça social” 200 .<br />

Niehues <strong>de</strong>senvolve sua investigação entre os anos <strong>de</strong> 1998<br />

e 2000. Embora pouco discuta essa nova dimensão política, a sua<br />

escrita <strong>de</strong>ixa transbordar as inquietações perante as inconveniências da<br />

migração rural-urbana. Olhando <strong>de</strong> fora e <strong>de</strong> longe 201 , opta por produzir<br />

representações que revelam o quanto personagens silenciosas foram<br />

coagidas por condições históricas alheias às suas vonta<strong>de</strong>s. Denuncia<br />

ela, em tom perturbador, na conclusão do seu trabalho:<br />

199 BRITO, Fausto. Op. cit. p. 19.<br />

200 Id. Ibid.<br />

201 Retomo a expressão <strong>de</strong> Magnani utilizada no Capítulo I. MAGNANI, José Guilherme Cantor.<br />

De perto e <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro: notas para <strong>uma</strong> etnografia urbana. revista Brasileira <strong>de</strong> Ciências<br />

sociais, São Paulo, v. 17, n. 49, p. 11-29, jun. 2002. Disponível em: . Acesso em: 25 out. 2008.

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