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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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O <strong>de</strong>mógrafo Fausto Brito, num ensaio sobre os recentes<br />

<strong>de</strong>safios teóricos abertos pela migração interna no Brasil, afirma que,<br />

das teorias econômicas e sociológicas, prevaleceu a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que “a<br />

migração era racional e necessária para o indivíduo que migrava, em<br />

particular, e positiva e funcional para o <strong>de</strong>senvolvimento da economia<br />

e mo<strong>de</strong>rnização da socieda<strong>de</strong>”. No entanto os estudos mostraram que<br />

muitos <strong>migrante</strong>s não conseguiram “transformar a sua esperança em<br />

realida<strong>de</strong>, apesar do dinamismo da economia e da abertura propiciada<br />

pelas mudanças em direção à mo<strong>de</strong>rnização social” 196 .<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista do capital, as migrações per<strong>de</strong>ram o seu papel<br />

positivo e necessário. Por outro lado, os <strong>migrante</strong>s e os não <strong>migrante</strong>s<br />

cada vez mais se tornaram indiferenciados em relação ao acesso a<br />

empregos, serviços públicos básicos e moradia. A “externalida<strong>de</strong><br />

positiva” das cida<strong>de</strong>s que atraía <strong>migrante</strong>s passou a ser aniquilada<br />

pela “externalida<strong>de</strong> negativa” da vida na cida<strong>de</strong>. Por conseguinte, a<br />

mobilida<strong>de</strong> espacial “se <strong>de</strong>scolou” da mobilida<strong>de</strong> social. Diz o autor:<br />

[...] a socieda<strong>de</strong> urbana, mais competitiva e cada<br />

vez menos solidária, assombrada com a barbárie<br />

que tem predominado nas relações sociais,<br />

aumentou os seus mecanismos <strong>de</strong> discriminação e<br />

<strong>de</strong> exclusão dos mais pobres. Conseqüentemente,<br />

as barreiras ao livre trânsito dos <strong>migrante</strong>s têm<br />

sido freqüentes e exacerbam os mecanismos<br />

<strong>de</strong> seletivida<strong>de</strong> estrutural. A racionalida<strong>de</strong><br />

econômica que, segundo o velho paradigma 197 , era<br />

a bússola necessária para o <strong>migrante</strong> encontrar<br />

o seu caminho, no novo padrão migratório<br />

torna-se, mais ainda, obsoleta diante dos riscos<br />

envolvidos 198 .<br />

Nos anos 1990, portanto, a própria face do fenômeno migratório<br />

começaria a fazer ruir a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que haveria <strong>uma</strong> articulação entre<br />

mobilida<strong>de</strong> espacial e mobilida<strong>de</strong> social, tese <strong>de</strong>fendida por Durham<br />

196 BRITO, Fausto. as migrações internas no Brasil: um ensaio sobre os <strong>de</strong>safios teóricos<br />

recentes. Belo Horizonte: UFMG/Ce<strong>de</strong>plar, 2009. p. 14.<br />

197 Por paradigma Fausto enten<strong>de</strong> “os mo<strong>de</strong>los, ou as idéias que durante um certo período<br />

orientam a ativida<strong>de</strong> científica e sobre os quais há um certo consenso”. Id. Ibid. p. 6.<br />

198 Id. Ibid. p. 16.

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