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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Entretanto nem tudo era política. Como funcionária <strong>de</strong> <strong>uma</strong> empresa<br />

prestadora <strong>de</strong> serviços para a Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral, recebeu <strong>uma</strong><br />

promoção ao concluir sua graduação. Duas inconveniências do novo cargo<br />

<strong>de</strong>safiaram a historiadora. Teria <strong>de</strong> residir em Florianópolis e representar os<br />

interesses da empresa. Já na nova cida<strong>de</strong> e na nova função, <strong>uma</strong> inusitada<br />

<strong>de</strong>manda pôs fim a sua ascensão empregatícia: teria <strong>de</strong> conter a greve dos<br />

funcionários que gerenciava. Decidiu abdicar <strong>de</strong> seu salário e recolher-se<br />

à vida acadêmica. Lembra que durante os anos do curso <strong>de</strong> mestrado<br />

não militou e confessa que experimentou, pela primeira vez, a solidão,<br />

levando-a a encarar a operação historiográfica como um compromisso<br />

para homenagear as personagens conhecidas e anônimas que haviam<br />

partilhado “os anseios por mudanças urbanas”. Disse-me: “O trabalho era<br />

<strong>uma</strong> homenagem, voltado não apenas para os movimentos organizados, mas<br />

para todos aqueles que teriam ousado resistir <strong>de</strong> todas as formas” 176 .<br />

Também teria escrito para (antigos) professores, militantes partidários<br />

e dos movimentos sociais. Motivada pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> qualificar suas posições,<br />

pela dissertação, po<strong>de</strong>ria galgar respeitabilida<strong>de</strong> política fundamentada<br />

no trabalho acadêmico. Po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar-se reconhecer. Mas não apenas<br />

isso. Desejava que eles, os seus <strong>de</strong>stinatários, se reconhecessem na sua<br />

escrita.<br />

Nesse <strong>de</strong>clarado jogo <strong>de</strong> intersubjetivida<strong>de</strong>s, a historiadora fez <strong>uma</strong><br />

interessante autocrítica: “Acho que há fragilida<strong>de</strong> teórica... não dá pra botar<br />

culpa no orientador... mas penso que até hoje o meu trabalho tem um lugar,<br />

embora muitas daquelas minhas i<strong>de</strong>ias já não valham mais”. Souza refere-se<br />

a <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> vencimento do prazo <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu trabalho, também<br />

a partir da reflexão sobre sua trajetória posterior. A experiência <strong>de</strong> ter sido<br />

assessora parlamentar mostrou-lhe que o “po<strong>de</strong>r do Estado e o do partido<br />

político são apenas pedaços <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r”, como também o são as “re<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> movimentos sociais” que, na maioria das vezes, “são reivindicatórias,<br />

imediatistas, não pensam na transformação da estrutura social. A luta que<br />

travam é por satisfação <strong>de</strong> carências imediatas e não por direitos próprios<br />

<strong>de</strong> <strong>uma</strong> socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática”. Por outro lado, embora tenha alcançado o<br />

reconhecimento enquanto “fala autorizada” para os movimentos populares,<br />

em sua opinião “a migração dos anos <strong>de</strong> 1990, <strong>de</strong> classe média, profissional<br />

com capital cultural, elevou o nível <strong>de</strong> exigências frente ao po<strong>de</strong>r”, tornando<br />

agora mais complexo o estudo sobre as resistências urbanas. Conclui: “Hoje<br />

eles [moradores] querem novos lugares” 177 .<br />

176 SOUZA, Sirlei <strong>de</strong>. Depoimento... 2009. Op. cit.<br />

177 Id. Ibid.

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