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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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sua dissertação. Sem hesitar, respon<strong>de</strong>u-me que sim, lembrando que<br />

havia, na época, <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> jogo <strong>de</strong> busca para a constituição <strong>de</strong><br />

um lugar próprio e singular aos <strong>migrante</strong>s. Disse ela: “A linearida<strong>de</strong> na<br />

cida<strong>de</strong> que se sustentava por um discurso coeso, étnico estava sendo<br />

<strong>de</strong>sconstruída. [...] A cida<strong>de</strong> em 1998 estava toda misturada”. Na sua<br />

avaliação, uns sabiam o que estava acontecendo, “outros resistiam a<br />

reconhecer a mistura” 172 .<br />

Buscar conhecer as várias cida<strong>de</strong>s do passado que se acumulavam<br />

no presente vivenciado exprimia, por outro lado, <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong><br />

esgotamento perante as representações que as elites insistiam em<br />

reproduzir. O seu trabalho era imbuído <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> “conscientização<br />

histórica” 173 , <strong>de</strong>sejo esse estreitamente ligado a sua própria trajetória.<br />

Souza chegou à cida<strong>de</strong> em 1983 e, em 1986, a convite do<br />

pároco do seu bairro passou a militar na Pastoral Operária, “motivada<br />

pelas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> discutir a política sindical e os movimentos<br />

reivindicatórios”. Posteriormente, colaborou com o Centro <strong>de</strong> Defesa dos<br />

Direitos H<strong>uma</strong>nos. Foi lá que, <strong>de</strong>senvolvendo ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> assessoria<br />

política, passou a conviver com “li<strong>de</strong>ranças oposicionistas, comunitárias<br />

e partidárias, incluindo aqueles que lutavam em movimentos pela<br />

moradia”. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores em 1988 a convite<br />

do então professor Carlito Merss, candidato pela primeira vez a prefeito<br />

<strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. Relata que o slogan da campanha “1988: construímos<br />

<strong>Joinville</strong>, vamos governá-la” tinha como mote a “i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> mostrar que<br />

os moradores [<strong>migrante</strong>s] tinham o direito à memória, porque, mesmo<br />

silenciados no passado, agora estavam mais presentes do que nunca”.<br />

Confessa que pairava <strong>uma</strong> percepção um tanto maniqueísta e simplista<br />

das forças em luta: “germânicos versus <strong>migrante</strong>s” 174 .<br />

Lembra que a discussão nos grupos <strong>de</strong> que participava<br />

apontava também para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> as li<strong>de</strong>ranças se qualificarem<br />

aca<strong>de</strong>micamente, ou seja, “tinha que militar e se intelectualizar” e viceversa.<br />

Em 1991, entrou no curso <strong>de</strong> História da Univille, passando a<br />

conviver e discutir com professores “que vieram <strong>de</strong> fora”. Lembra que<br />

alguns <strong>de</strong>les “conseguiam enxergar outra cida<strong>de</strong> e as contradições<br />

<strong>de</strong>la” 175 .<br />

172 SOUZA, Sirlei <strong>de</strong>. Depoimento. entrevista concedida a ilanil Coelho e Fernando Cesar<br />

sossai. <strong>Joinville</strong>, 6 nov. 2009.<br />

173 Id. Ibid.<br />

174 Id. Ibid.<br />

175 Id. Ibid.

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