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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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“gente boa e trabalhadora”. Seu discurso parece querer combater i<strong>de</strong>ias<br />

negativas acerca da migração e dos <strong>migrante</strong>s dando <strong>de</strong>staque aos bons<br />

exemplos para com isso produzir, para essas pessoas, um lugar <strong>de</strong><br />

reconhecimento público no presente e no passado <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>.<br />

A insistência em prol <strong>de</strong>ssa visibilida<strong>de</strong> pública que reconhecesse<br />

a contribuição dos <strong>migrante</strong>s no “crescimento” urbano parece margear<br />

não apenas alguns discursos do jornal mais lido na cida<strong>de</strong>. O Jornal<br />

O Vizinho (JOV), com tiragem <strong>de</strong> cem mil exemplares, distribuídos<br />

gratuitamente <strong>de</strong> “porta em porta” pelos bairros da cida<strong>de</strong>, corroborava,<br />

à sua maneira, tal reconhecimento.<br />

Segundo o proprietário do JOV, Altamir Antônio Andra<strong>de</strong>, o<br />

informativo, mais do que empreen<strong>de</strong>r <strong>uma</strong> nova forma <strong>de</strong> comunicação<br />

social em <strong>Joinville</strong>, buscava dar publicida<strong>de</strong> a novas personagens,<br />

“moradores que se <strong>de</strong>stacam nos seus respectivos bairros com ativida<strong>de</strong>s<br />

comunitárias e filantrópicas”, e, é claro, fazer propaganda <strong>de</strong> produtos<br />

e serviços mais localizados. Confessando que “para muitos” po<strong>de</strong>ria<br />

parecer <strong>uma</strong> “questão pouco nobre”, Andra<strong>de</strong> justifica a publicação <strong>de</strong><br />

“<strong>uma</strong> seção <strong>de</strong> piadas com personagens ícones [...], os casais Fritz e<br />

Frida; Heinz e Helga; e Harry e Hilda”, buscando combater a imagem<br />

<strong>de</strong> que <strong>Joinville</strong> “só existira a partir da colonização alemã” 171 . Assim,<br />

as piadas ridicularizando personagens caricaturizadas serviam, para ele,<br />

como “represália à soberba germânica”, <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> <strong>de</strong>sforra diante<br />

<strong>de</strong> alguns antigos moradores ainda pouco convencidos <strong>de</strong> que o presente<br />

e o futuro joinvilense seriam <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dores <strong>migrante</strong>s.<br />

Portanto, percepções binárias <strong>de</strong> caráter moralista, além <strong>de</strong><br />

insinuar novas práticas <strong>de</strong> intolerância cotidiana, margeiam o <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong> subjetivar a história da cida<strong>de</strong>. Não busco com isso estabelecer <strong>uma</strong><br />

relação direta entre o discurso da historiadora Sirlei <strong>de</strong> Souza e os dos<br />

jornalistas. Porém parece-me que os textos exprimem um contexto <strong>de</strong><br />

busca <strong>de</strong> afirmação positivada dos <strong>migrante</strong>s e da migração.<br />

É possível que, ao lidar com a história oral, Souza respon<strong>de</strong>sse<br />

aos <strong>de</strong>safios da “guinada subjetiva”, dialogando com a historiografia,<br />

com os discursos do seu tempo e com as tensas questões que atravessam<br />

seu lugar social e profissional.<br />

Em entrevista realizada em 2009, perguntei à historiadora se a<br />

migração teria pesado para a escolha e a problematização do tema <strong>de</strong><br />

171 ANDRADE, Altamir Antônio. a prática do jornalismo científico em jornal comunitário<br />

e seus tensionamentos. 2007. 70 p. Monografia (Comunicação Social / Jornalismo) – Instituto<br />

Superior e Centro Educacional Bom Jesus/Ielusc, <strong>Joinville</strong>, 2007. p. 28.

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