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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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do Paraná. As fontes orais reúnem oito entrevistas feitas pela autora com<br />

militantes comunistas que atuaram em <strong>Joinville</strong> nos anos 1960 e 1970.<br />

Penso que, do ponto <strong>de</strong> vista teórico-metodológico, estabelece,<br />

pelas fontes, as polarizações necessárias para fundamentar sua hipótese:<br />

não se tratava <strong>de</strong> <strong>uma</strong> cida<strong>de</strong> conservadora, e pelas histórias silenciadas<br />

pelos vencedores iria <strong>de</strong>monstrar que “nem tudo no passado <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong><br />

foi ‘príncipe, princesa e flores’ e que a resistência existiu” 164 .<br />

Mesmo buscando trazer à discussão as reflexões sobre po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

Michel Foucault, a autora não i<strong>de</strong>ntifica as “resistências” populares como<br />

manifestações <strong>de</strong> exercício <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ou “micropo<strong>de</strong>res”. Parece-me que,<br />

para ela, o efetivo exercício <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r é prerrogativa apenas da “re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

relações” das instituições atreladas à elite local. As resistências seriam<br />

<strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> manifestações <strong>de</strong>sautorizadas, movidas por “mentes e<br />

corações que acreditavam no sonho, alguns <strong>de</strong> um mundo diferente” 165 .<br />

Com base nessas polarizações levanta e interpreta as práticas e<br />

representações sem estabelecer relações ou contradiscursos em alguns<br />

documentos, julgando-os como expressões literais restritas ao exercício<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r das elites sobre os <strong>migrante</strong>s. Assim, qualifica as narrativas<br />

dos jornais como orquestração literária da dominação, afirmando não<br />

haver nenhum “indício” capaz <strong>de</strong> levá-la à percepção das resistências<br />

populares nesses discursos. Seria pelas narrativas orais, mesmo pela<br />

problematização dos não ditos, que sua hipótese alcançaria êxito, ou seja,<br />

apenas por elas seria possível representar politicamente os oprimidos.<br />

Diz ela que, “ao folhear os documentos ligados ao DOPS”, sentiu<br />

“calafrios”, pois teve a impressão <strong>de</strong> estar submergindo na confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong><br />

do po<strong>de</strong>r. Tratava-se do “mundo do repressor, aquele que serviu como<br />

argumento para prisões, torturas, <strong>de</strong>saparecimentos e mortes” 166 . Mais<br />

<strong>uma</strong> vez, seu olhar sobre tais documentos a leva a reforçar a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

que “os registros das resistências só existem na memória daqueles que<br />

resistiram” 167 , pelo menos durante a ditadura militar.<br />

Há duas questões a consi<strong>de</strong>rar que permeiam a análise da<br />

autora. A primeira diz respeito ao seu trato com as fontes orais, e a<br />

segunda, interligada à primeira, abarca como ela procurou expressar-se<br />

politicamente pela dissertação, <strong>de</strong>marcando sua crítica à medida que<br />

164 SOUZA, Sirlei <strong>de</strong>, 1998. Op. cit. p. 140.<br />

165 Id. Ibid. p. 108.<br />

166 Id. Ibid. p. 111.<br />

167 Id. Ibid. p. 112.

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