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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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200<br />

Ao mesmo tempo, insinuava falar em nome dos dominados, já que,<br />

conforme explicitou, estes não conseguiam discernir sobre as razões <strong>de</strong><br />

sua própria condição <strong>de</strong> dominados. Por fim, parece-me que, ao buscar<br />

aclarar historicamente os mecanismos <strong>de</strong> dominação burguesa, Meurer<br />

era movido pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> transformar o exercício intelectual em produção<br />

<strong>de</strong> evidências, por meio das quais tornaria o próprio intelectual (vinculado<br />

a algum tipo <strong>de</strong> institucionalida<strong>de</strong>) em li<strong>de</strong>rança política esclarecida e<br />

empo<strong>de</strong>rada, capaz <strong>de</strong> converter o “real” em espelho do “imaginário”<br />

e vice-versa.<br />

Ora, penso ser possível, por isso, refletir sobre o seu discurso<br />

relacionando-o não apenas à questão migratória <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>, ou mesmo<br />

aos intensos <strong>de</strong>bates ligados ao movimento <strong>de</strong> renovação teóricometodológica<br />

da historiografia brasileira a partir dos anos <strong>1980</strong>. As<br />

práticas e representações <strong>de</strong> caráter político num país que recentemente<br />

se livrara <strong>de</strong> <strong>uma</strong> ditadura militar manifestavam-se na historiografia e<br />

na imprensa local, incitando a imaginação daqueles que estudavam ou<br />

analisavam o urbano e os caminhos para sua transformação.<br />

Assim, se Meurer põe em <strong>de</strong>staque a imprescindibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças na cida<strong>de</strong> <strong>migrante</strong>, outros discursos historiográficos<br />

contrastantes passam a ser produzidos. É o caso da historiadora Sirlei<br />

<strong>de</strong> Souza em sua dissertação <strong>de</strong> mestrado, Ecos da resistência na<br />

<strong>de</strong>sconstrução da or<strong>de</strong>m: <strong>uma</strong> análise da Revolução <strong>de</strong> 64 em <strong>Joinville</strong> 157 .<br />

Para além da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “passivida<strong>de</strong>” histórica e política, os <strong>migrante</strong>s e a<br />

migração no meio urbano são analisados por Souza sob outra abordagem<br />

que penso estar vinculada ao “retorno à história política”.<br />

É preciso lembrar que tal retorno, conforme explica Ângela <strong>de</strong><br />

Castro Gomes, se traduziu como “recusa <strong>de</strong> explicações <strong>de</strong>terminísticas,<br />

metodologicamente quantitativistas e marcadas pela ‘presença’ <strong>de</strong> atores<br />

coletivos abstratos, não localizáveis no tempo e no espaço”. No Brasil,<br />

os historiadores foram <strong>de</strong>safiados a respon<strong>de</strong>r a “<strong>uma</strong> <strong>de</strong>manda social”<br />

por “explicações sobre o que estava ocorrendo (e iria ocorrer)” após a<br />

experiência ditatorial, fato que corroborou <strong>uma</strong> mudança <strong>de</strong> suas “posições<br />

públicas” e os aproximou <strong>de</strong> outros intérpretes do presente, forçando-os,<br />

ao mesmo tempo, a rever “suas ambições totalizadoras e suas explicações<br />

racionalistas/materialistas”, bem como a incorporar o “tempo presente à<br />

história” e a rediscutir as “relações política-cultura” 158 .<br />

157 SOUZA, Sirlei <strong>de</strong>, 1998. Op. cit.<br />

158 GOMES, Ângela <strong>de</strong> Castro. Questão social e historiografia no Brasil do pós-<strong>1980</strong>: notas<br />

para um <strong>de</strong>bate. estudos Históricos, n. 34, p. 157-186, jul.-<strong>de</strong>z. 2004.

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