08.05.2013 Views

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

195<br />

e o mundo concreto dos manguezais, invadidos<br />

por seres h<strong>uma</strong>nos famintos, muita coisa tem para<br />

ser escrita 136 .<br />

Pressupõe, assim, a existência <strong>de</strong> dois mundos paralelos e quase<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, pois aquele formado pela “concretu<strong>de</strong>” das relações<br />

sociais seria moldado pelo outro, constituído por representações<br />

simbólicas.<br />

Mesmo constatando certa imprecisão conceitual dos termos<br />

“imaginário”, “i<strong>de</strong>ologia” e “real”, operados em diversas passagens do<br />

seu discurso, Meurer apresenta <strong>uma</strong> abordagem bastante inovadora,<br />

pois até então a memória histórica da cida<strong>de</strong> não tinha ainda sido<br />

problematizada nesses termos. Outras noções, tais como “luta <strong>de</strong> classes”<br />

e “representações”, sinalizam o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sestabilizar as versões <strong>de</strong><br />

passado que, segundo ele, exaltariam a “harmonia e progresso” social<br />

<strong>de</strong> inspiração étnica (germânica).<br />

O fato <strong>de</strong> o autor não se preocupar em aclarar (teóricometodologicamente)<br />

esses termos à luz dos documentos 137 que utiliza<br />

na operação historiográfica coloca, por outro lado, questões que penso<br />

ser importantes para analisar não apenas o seu discurso, mas também<br />

para perscrutar o lugar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> fala e para quem o <strong>de</strong>stina.<br />

Justifica que seu objetivo é explicar a “linearida<strong>de</strong> histórica” 138 que<br />

instituiu o “mundo fantástico”, a “história i<strong>de</strong>al” e o seu distanciamento<br />

do real. Tal distanciamento teria sido movido pelos interesses <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

“elite burguesa” para manter sob seu jugo as classes dominadas, em<br />

especial os operários <strong>migrante</strong>s que passaram a viver na cida<strong>de</strong> “entre<br />

flores e manguezais a procura <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>” 139 .<br />

Portanto, mesmo que pelas “práticas” dos <strong>migrante</strong>s a cida<strong>de</strong><br />

“real” seja transformada, segundo o autor, elas não são capazes <strong>de</strong> mudar<br />

os índices simbólicos que sustentam o seu “imaginário”. Aí se nota a<br />

fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus argumentos, pois concebe tais índices, no tempo<br />

presente, como elementos apriorísticos, dotados <strong>de</strong> <strong>uma</strong> força essencial,<br />

136 MEURER, Belini. Op. cit. p. 6.<br />

137 O autor utiliza, predominantemente, os jornais editados em <strong>Joinville</strong> como fonte documental.<br />

Embora faça referência às obras <strong>de</strong> Max Weber, Karl Marx e Michel Foucault, não esclarece ao<br />

leitor como se apropriou das contribuições teóricas <strong>de</strong>sses autores para sua própria interpretação<br />

histórica.<br />

138 MEURER, Belini. Op. cit. p. 2.<br />

139 Id. Ibid. p. 5.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!