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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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germânico na criação das instituições “comunitárias” e nas práticas urbanas<br />

do passado, consi<strong>de</strong>ra, nesse caso, a experiência migratória imiscuída<br />

n<strong>uma</strong> teia complexa e dinâmica <strong>de</strong> relações sociais e culturais.<br />

Por outro lado, quando o assunto é migração interna, sua explicação<br />

recorre <strong>de</strong> forma restrita ao mo<strong>de</strong>lo repulsão-atração, representando a<br />

migração como resposta quase mecânica <strong>de</strong> indivíduos <strong>de</strong>sfavorecidos.<br />

Esse pressuposto também direciona o olhar que tem sobre os <strong>migrante</strong>s<br />

no contexto urbano.<br />

Como procurei <strong>de</strong>stacar na análise das três obras, sob o olhar do<br />

autor as explicações sobre as transformações <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> sofrem alterações<br />

significativas. Ao reduzir os <strong>migrante</strong>s a empregados (ou <strong>de</strong>sempregados<br />

em potencial) das empresas locais ou a corpos que respon<strong>de</strong>m às suas<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sobrevivência, os vê no “cotidiano” da cida<strong>de</strong> não<br />

como sujeitos, mas como indivíduos “<strong>de</strong>spossuídos”, <strong>de</strong>sintegrados das<br />

sociabilida<strong>de</strong>s culturais e, por isso, sequestrados e amarrados a um “não<br />

lugar” próprio. Penso por isso que, juntamente com sua tese histórica<br />

essencialista, Ternes apenas percebe e explica a presença dos <strong>migrante</strong>s<br />

“fora das fábricas” 132 , atribuindo-lhes o papel <strong>de</strong> agentes <strong>de</strong> favelização, <strong>de</strong><br />

criminalida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>scaracterização da cida<strong>de</strong>, a qual pensa conhecer<br />

profunda e verda<strong>de</strong>iramente.<br />

Por outro lado, o fato <strong>de</strong> o autor retratar repetida e afirmativamente<br />

a “essência” joinvilense, procurando traduzir sua imanência nas trajetórias<br />

dos “pioneiros” i<strong>migrante</strong>s germânicos (1981), dos empresários da ACIJ<br />

(1986) ou mesmo nas preocupações dos urbanistas do CEAJ (1993), <strong>de</strong>ixa<br />

entrever seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> dotar a história <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> não apenas para<br />

explicar (legitimando) o po<strong>de</strong>r social e simbólico <strong>de</strong>sses grupos e se fazer<br />

reconhecer neles, mas também <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> pedagógica para ensinar<br />

(aclarando) aos subalternos (diferentes e <strong>de</strong>siguais) sobre seus lugares e<br />

suas restritas possibilida<strong>de</strong>s na história <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>.<br />

2.3 TENSÕES HISTORIOGRÁFICAS NOS ANOS DE 1990<br />

As críticas às obras <strong>de</strong> Apolinário Ternes começaram a ganhar<br />

visibilida<strong>de</strong> no <strong>de</strong>bate historiográfico local por meio <strong>de</strong> dissertações<br />

132 Aqui faço alusão ao trabalho da professora Maria Auxiliadora Guzzo Decca (a vida fora<br />

das fábricas: cotidiano operário em São Paulo. 1920-1934. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1987).<br />

Voltando-se ao estudo do cotidiano operário fora das fábricas, a autora aborda, entre outros<br />

aspectos, as práticas <strong>de</strong> lazer na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo consi<strong>de</strong>rando-as como narrativas sobre<br />

as experiências dos trabalhadores do período.

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