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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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[...] ao viverem entre dois campos sociais que<br />

envolvem múltiplas relações e conexões entre a<br />

socieda<strong>de</strong> hospe<strong>de</strong>ira e a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem,<br />

não estão sendo forçados a abandonar velhos<br />

padrões e se adaptarem a novas circunstâncias,<br />

mas criando um singular campo social que só é<br />

possível <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mundo globalizado 130 .<br />

Na cida<strong>de</strong> contemporânea, portanto, os citadinos, <strong>migrante</strong>s ou<br />

não, vivem e promovem entrecruzamentos, mediações e hibridismos,<br />

<strong>de</strong>senrolando jogos entre semelhanças e diferenças, bem como<br />

sentimentos <strong>de</strong> pertencimentos baseados em processos i<strong>de</strong>ntitários<br />

fluidos e <strong>de</strong>slizantes.<br />

Dessa digressão procuro, em síntese, expressar que as próprias<br />

explicações sobre a migração são contextuais e dizem respeito a<br />

como as socieda<strong>de</strong>s a praticam e a representam. Os cientistas sociais,<br />

reconhecendo o fato <strong>de</strong> que o tema apenas recentemente <strong>de</strong>spertou<br />

interesse <strong>de</strong> maneira “autônoma” no campo, ressaltam a importância do<br />

caráter interdisciplinar dos estudos empreendidos. As inúmeras questões<br />

e problemáticas daí emergentes, no conjunto, corroboram os avanços nos<br />

diversos domínios do conhecimento e, ao mesmo tempo, são animadas<br />

e animam os <strong>de</strong>bates políticos travados acerca do papel e do lugar<br />

dos <strong>migrante</strong>s nas <strong>de</strong>nominadas socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> origem e hospe<strong>de</strong>iras.<br />

Aproprio-me <strong>de</strong>ssa perspectiva para analisar as questões teóricas que<br />

cruzam os discursos da historiografia local.<br />

Quando o assunto é imigração germânica, Apolinário Ternes<br />

trabalha com i<strong>de</strong>ias ligadas ao “mo<strong>de</strong>lo” repulsão-atração. Imputa ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do capitalismo europeu as razões pelas quais os pioneiros<br />

foram levados a principiar <strong>uma</strong> “viagem sem retorno”. Entretanto,<br />

por suas “superiores” características “psicossociais” e culturais, bem<br />

como pelo “vazio <strong>de</strong>mográfico” ou ausência <strong>de</strong> civilização na região<br />

receptora 131 , livremente e sem constrangimentos políticos “plantaram”<br />

<strong>uma</strong> cida<strong>de</strong> que, a partir do século XX, foi percebida pelos nacionais<br />

como <strong>uma</strong> ínsula benéfica. Ao constatar a predominância do elemento<br />

130 ASSIS, Gláucia <strong>de</strong> Oliveira; SASAKI, Elisa Massae, 2000. Op. cit. p. 14.<br />

131 Refiro-me às mudanças do olhar do autor sobre as condições prévias encontradas pelos<br />

i<strong>migrante</strong>s germânicos. Na obra <strong>de</strong> 1981 caracterizava o lugar como “vazio <strong>de</strong>mográfico”. Em<br />

1993, ao contrário, dava a enten<strong>de</strong>r que não se tratava <strong>de</strong> um vazio <strong>de</strong>mográfico. Na “préhistória”,<br />

o local já havia sido ocupado pelo “homem do Sambaqui”. No século XVI, foram<br />

os carijós, povos “nativos” da região, que receberam os primeiros batizantes civilizatórios. A<br />

passagem <strong>de</strong> viajantes e navegadores e as tentativas <strong>de</strong> colonização <strong>de</strong> franceses são pelo autor<br />

indicadas como primeiros “batismos europeus na região”.

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