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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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espacial das fábricas e, por extensão, à <strong>de</strong>sconcentração populacional.<br />

Com isso, surgiriam novas oportunida<strong>de</strong>s para os mais pobres e<br />

atrasados municípios vizinhos, bem como aliviariam as pressões sociais<br />

sobre a infraestrutura e os serviços públicos. <strong>Joinville</strong> talvez assim<br />

pu<strong>de</strong>sse vir a se tornar um centro não apenas “cultural e tecnológico”,<br />

mas “fornecedor <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra” 121 para outras regiões. Portanto, o<br />

problema da migração po<strong>de</strong>ria se tornar solução.<br />

Cabe aqui <strong>uma</strong> reflexão sobre as representações <strong>de</strong> migração<br />

e <strong>de</strong> <strong>migrante</strong>s que permearam as três obras <strong>de</strong> Ternes. Elas estão<br />

entrelaçadas, em certa medida, com as explicações propostas pelos<br />

estudos sobre o tema empreendidos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> fins do século XIX e que<br />

emergiram (e permearam) dos <strong>de</strong>bates políticos sobre as transformações<br />

<strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s e países com forte presença <strong>de</strong> i<strong>migrante</strong>s.<br />

O sociólogo português João Peixoto 122 afirma que a trajetória das<br />

teorias sobre as migrações é bastante atribulada. O tema praticamente<br />

teria sido ignorado pelos autores clássicos (século XIX) das ciências<br />

sociais, embora já no contexto <strong>de</strong>sses autores os fluxos migratórios<br />

adquirissem importância, quer na forma <strong>de</strong> movimentos internos do<br />

campo para a cida<strong>de</strong>, quer nos <strong>de</strong>slocamentos transoceânicos.<br />

Em sua opinião, ao longo do século XX o interesse crescente<br />

pelo fenômeno migratório dispersou-se por várias disciplinas, o que<br />

explicaria o caráter interdisciplinar dos estudos, transformando-se em<br />

problemática para a <strong>de</strong>mografia, a economia, a geografia, a sociologia e<br />

<strong>de</strong>mais áreas das ciências sociais. Dois textos do geógrafo e cartógrafo<br />

inglês Ernest G. Ravenstein 123 tornaram-se, contudo, assíduas referências<br />

nos trabalhos <strong>de</strong>sses estudiosos.<br />

Para Peixoto, Ravenstein está na base das teorias posteriores que<br />

estudaram a migração <strong>de</strong>ntro do mo<strong>de</strong>lo “atração-repulsão”. Conforme<br />

suas palavras,<br />

121 TERNES, Apolinário, 1993. Op. cit. p. 197.<br />

A filiação paradigmática <strong>de</strong>stes mo<strong>de</strong>los é, como<br />

se sabe, clara. Eles consi<strong>de</strong>ram que, no centro dos<br />

processos migratórios, se encontra a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong><br />

um agente racional que, na posse <strong>de</strong> informação<br />

122 PEIXOTO, João. as teorias explicativas das migrações: teorias micro e macro-sociológicas.<br />

Lisboa: Socius, 2004.<br />

123 Trata-se <strong>de</strong> dois textos sobre as “Leis da migração” publicados em 1885 e 1889. Peixoto<br />

transcreve as sete leis, bem como outros trechos das obras para dar visibilida<strong>de</strong> ao caráter<br />

precursor do trabalho <strong>de</strong> Ravenstein.

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