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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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<strong>de</strong>vidamente enunciados. Ao leitor, penso, caberia o aprendizado das<br />

lições. Com menor intensida<strong>de</strong>, as duas outras obras que passo a analisar<br />

a seguir apresentam essa operação <strong>de</strong> ocultamento das fontes.<br />

Cinco anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua “abordagem crítica”, Ternes publica<br />

História econômica <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> 89 . No prefácio, o então presi<strong>de</strong>nte da<br />

Associação Comercial e Industrial <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> (ACIJ), o empresário<br />

Nivaldo Nass, explicita o lugar da obra e o seu significado. O livro seria<br />

um presente que a associação, aos 75 anos <strong>de</strong> existência, entregava à<br />

cida<strong>de</strong> pela passagem dos seus 135 anos. A dupla comemoração, que se<br />

tornava pública pelo livro, <strong>de</strong>ixava clara a intencionalida<strong>de</strong> dos envolvidos<br />

em selecionar e fazer uso da memória relativa à história urbana.<br />

Como afirma a historiadora Helenice Rodrigues da Silva, as<br />

comemorações são objetos <strong>de</strong> interesse em jogo acerca do que <strong>de</strong>ve<br />

ser lembrado e esquecido. Há nisso certa perversão, pois opera-se para<br />

apagar situações e experiências sociais constrangedoras e privilegiar os<br />

mitos fundadores e as utopias <strong>de</strong> futuros. Diz ela que, “consagrando o<br />

universalismo dos valores <strong>de</strong> <strong>uma</strong> comunida<strong>de</strong>, as comemorações buscam,<br />

nessa ‘rememoração’ <strong>de</strong> acontecimentos passados, significações diversas<br />

para uso do presente” 90 . Tal operação é perceptível no caso <strong>de</strong>ssa obra<br />

<strong>de</strong> Ternes.<br />

O prefaciador reforça a tese/síntese <strong>de</strong> Ternes <strong>de</strong>fendida na obra<br />

anterior. A essência histórica <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>, anunciava, iria “manterse<br />

fiel” no futuro. Ler o livro e dar-lhe a <strong>de</strong>vida importância seria<br />

comemorar “o trabalho e o espírito comunitário”, próprios não apenas<br />

dos acontecimentos-chave, mas da trajetória dos empresários, cujos i<strong>de</strong>ais<br />

se afirmavam, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre, na “<strong>de</strong>fesa dos superiores interesses <strong>de</strong><br />

<strong>Joinville</strong> e <strong>de</strong> sua gente” 91 .<br />

Dessa perspectiva, comemorar o aniversário da cida<strong>de</strong> significava,<br />

para Nivaldo Nass, comemorar o aniversário da ACIJ. Há nisso um uso<br />

<strong>de</strong>liberado da memória, porém me parece ser mais significativo o fato<br />

<strong>de</strong> o empresário procurar estabelecer essa simbiose histórica entre ACIJ<br />

e <strong>Joinville</strong> e <strong>de</strong>sejar com a obra <strong>de</strong> Ternes conscientizar os <strong>de</strong>stinatários<br />

do discurso.<br />

Também para Ternes era pertinente a comemoração dupla. Teria<br />

sido graças aos esforços da entida<strong>de</strong> e especialmente à mobilização<br />

89 TERNES, Apolinário, 1986. Op. cit.<br />

90 SILVA, Helenice Rodrigues da. “Rememoração”/comemoração: as utilizações sociais da<br />

memória. revista Brasileira <strong>de</strong> História, São Paulo, v. 22, n. 44, p. 425-438, <strong>de</strong>z. 2002.<br />

91 TERNES, Apolinário, 1986. Op. cit. p. 3.

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