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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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histórico que lhe parece linear e progressivo, diz pelo não dito o papel e<br />

a posição que consi<strong>de</strong>ra que tenham e na qual estejam os <strong>migrante</strong>s no<br />

início da década <strong>de</strong> <strong>1980</strong>, ou seja, coadjuvantes indistintos, estrangeiros<br />

<strong>de</strong>scontextualizados, sujeitos inscientes <strong>de</strong> suas escolhas, culturalmente<br />

subalternos e socialmente inferiores. A pujança das empresas joinvilenses<br />

seria o motor para civilizar essa massa que, ciosa por empregos, produzia<br />

efeitos colaterais in<strong>de</strong>sejáveis, mas ao mesmo tempo não comprometia<br />

a realização do vitorioso <strong>de</strong>stino urbano.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista teórico, penso que nesse primeiro trabalho<br />

o autor apresenta <strong>uma</strong> linha argumentativa bastante coesa. Mesmo<br />

discordando <strong>de</strong> seus pressupostos, <strong>de</strong> sua interpretação e, principalmente,<br />

<strong>de</strong> seus posicionamentos sobre a operação historiográfica, consi<strong>de</strong>ro<br />

a sua “abordagem crítica” um documento singular no <strong>de</strong>bate<br />

historiográfico. Especialmente no que diz respeito à problematização<br />

do olhar “etnicizado” da produção histórica local, as intencionalida<strong>de</strong>s<br />

que moveram as representações <strong>de</strong> passado que o autor <strong>de</strong>sejou tornar<br />

“verda<strong>de</strong>s” se transformaram, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, em objetos <strong>de</strong> ácidas<br />

disputas pessoais e intelectuais. No campo da história, passou a servir<br />

<strong>de</strong> referência para qualificar exemplarmente a categoria <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong><br />

“história tradicional” 88 . Procuro, no entanto, ressaltar sua importância<br />

para as minhas reflexões, já que me valho <strong>de</strong>ssa obra para discutir os<br />

imperativos, <strong>de</strong> toda or<strong>de</strong>m, que começam a ganhar visibilida<strong>de</strong> naquele<br />

contexto quando o assunto era migração.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista dos procedimentos metodológicos, cabe ainda<br />

<strong>uma</strong> observação. Na escrita do autor, praticamente inexistem referências<br />

documentais e bibliográficas. Transcreve a “Lei Fundamental da Colônia”<br />

e alguns trechos do antigo jornal da cida<strong>de</strong>, o Kolonie-Zeitung. Insere<br />

alg<strong>uma</strong>s imagens como mera ilustração. Penso aí também manifestarse<br />

o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r do autor. Dito <strong>de</strong> outra forma, o ocultamento<br />

das fontes exprime a intenção <strong>de</strong> tornar o seu discurso histórico em<br />

discurso autorreferente, já que não importariam as fontes, apenas os<br />

seus argumentos e conclusões, por meio dos quais ganha sentido a<br />

prática investigativa e analítica da história. A síntese e o sentido último<br />

<strong>de</strong> quaisquer acontecimentos ou fatos estariam, com sua obra, sendo<br />

88 A historiadora Janice Gonçalves, em sua tese <strong>de</strong> doutorado, alerta para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

analisar a <strong>de</strong>nominada “história tradicional” com base nos pressupostos teórico-metodológicos<br />

adotados pelos autores em suas obras, precavendo-se da cilada <strong>de</strong> sentenças homogeneizantes.<br />

GONÇALVES, Janice. sombrios umbrais a transpor: arquivos e historiografia em Santa<br />

Catarina no século XX. 2006. 444 p. Tese (Doutorado em História Social) – Programa <strong>de</strong><br />

Pós-Graduação em História Social, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo, 2006.

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