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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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180<br />

A Proclamação da República teria <strong>de</strong>safiado as li<strong>de</strong>ranças locais<br />

a firmarem <strong>uma</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> representação que gerou “<strong>uma</strong> automática<br />

união <strong>de</strong> forças econômicas, até então divergentes” 84 . Graças a isso a<br />

cida<strong>de</strong> recebeu no começo do século XX energia elétrica, <strong>de</strong>u início<br />

à construção da estrada <strong>de</strong> ferro, inaugurou o Hospital <strong>de</strong> Carida<strong>de</strong><br />

e o Mercado Público. Cada vez mais conscientes <strong>de</strong> que <strong>Joinville</strong> já<br />

representava no cenário nacional papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque, as li<strong>de</strong>ranças,<br />

segundo o autor, pu<strong>de</strong>ram “manobrar”, “tirar proveito” e “barganhar”<br />

com o governo republicano o potencial eleitoral da cida<strong>de</strong>. A vinda do<br />

presi<strong>de</strong>nte Afonso Pena, o qual alcunhou a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “Jardim do Brasil”,<br />

teria sido exemplo <strong>de</strong> astúcia política das li<strong>de</strong>ranças da época.<br />

Já os outros dois acontecimentos – a Primeira Gran<strong>de</strong> Guerra e<br />

a Campanha <strong>de</strong> Nacionalização – são analisados pelo autor por meio<br />

do que consi<strong>de</strong>ra “aspectos culturais” da vida urbana. Segundo ele,<br />

embora <strong>Joinville</strong> já tivesse superado o ciclo colonial, “laços com a terra<br />

<strong>de</strong> Goethe” até 1938 foram fortemente cultivados pela população. Uma<br />

espécie <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong> atávica materializava-se nas associações culturais e<br />

recreativas <strong>de</strong> inspiração germânica, nas escolas, na imprensa e no uso<br />

do idioma da pátria dos pioneiros. A Primeira Gran<strong>de</strong> Guerra expôs<br />

nacionalmente essa especificida<strong>de</strong> cultural. Vista como problema,<br />

entretanto, não chegou a abalar a “estrutura da socieda<strong>de</strong>, que continuaria<br />

fechada, germanizada, não integrada ao todo que constitui a verda<strong>de</strong>ira<br />

nacionalida<strong>de</strong> brasileira” 85 . A Campanha <strong>de</strong> Nacionalização, ao contrário,<br />

ao proibir tais manifestações culturais provocou “ressentimentos,<br />

mágoas e rancores”. De forma “radical e cirúrgica” 86 ela teria sido<br />

necessária para incorporar e integrar nacionalmente <strong>Joinville</strong>. Todavia,<br />

mais <strong>uma</strong> vez, a “comunida<strong>de</strong>” viveria essa provação e respon<strong>de</strong>ria “à<br />

maneira germânica”, ou seja, “pelo trabalho”, aos imperativos nacionais,<br />

“colaborando <strong>de</strong>cisivamente para que todo o País obtivesse novo estatus,<br />

como Nação economicamente mais evoluída” 87 .<br />

As transformações culturais urbanas sob impulso da migração<br />

a partir dos anos <strong>de</strong> 1960, portanto, não abalaram para o autor, pelo<br />

menos nesta obra, a visão <strong>de</strong> futuro que tem sobre a cida<strong>de</strong>. Ao tratar<br />

a migração recente como mais um fator ou variante <strong>de</strong> um processo<br />

84 TERNES, Apolinário, 1981. p. 231.<br />

85 Id. Ibid. p. 251.<br />

86 Id. Ibid. p. 265.<br />

87 Id. Ibid. p. 270.

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