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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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a intenção do autor em incluir e estabelecer os vínculos da história<br />

local com <strong>uma</strong> história universal, eurocentricamente concebida. Como<br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentido, embora bastante imprecisa, o termo “processo<br />

civilizatório” tem por função conectar espaços e tempos distintos, bem<br />

como exaltar e positivar a marcha evolutiva, progressiva e ascen<strong>de</strong>nte<br />

do <strong>de</strong>stino urbano sob li<strong>de</strong>rança dos i<strong>migrante</strong>s germânicos.<br />

A isso se relaciona o segundo pressuposto <strong>de</strong> Ternes, qual seja a<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que as terras conquistadas pelos i<strong>migrante</strong>s se caracterizavam<br />

pelo “vazio <strong>de</strong>mográfico” e pela “inóspita mataria tropical”. Tal<br />

primitivismo paisagístico serve para ilustrar o atraso do lugar e, ao<br />

mesmo tempo, ressaltar que, pelas mãos dos pioneiros, foi possível<br />

“plantar <strong>uma</strong> cida<strong>de</strong>” do nada, superando-se assim um suposto estágio<br />

inferior <strong>de</strong> existência 77 .<br />

Nessa perspectiva, as migrações internas em nada se assemelhariam<br />

a tais propósitos civilizatórios, já que, por um lado, teriam sido resultado<br />

do empreen<strong>de</strong>dorismo “quase incontrolável”, próprio da “personalida<strong>de</strong><br />

coletiva” dos pioneiros civilizadores – por extensão, da cida<strong>de</strong> que<br />

plantaram –, e, por outro lado, os <strong>migrante</strong>s internos culturalmente<br />

se distinguiam do perfil psicossocial do “elemento joinvilense”. Diz<br />

o autor: “A constituição racial do Brasil, formada em sua essência<br />

pelo elemento indígena, pelo negro africano e pelo branco europeu,<br />

notadamente os portugueses, [...] têm profundas e oceânicas diferenças<br />

do elemento anglo-saxão, do elemento germânico, prussiano, tenaz,<br />

obstinado” 78 . Diante disso, insiste que “o que temos que enten<strong>de</strong>r é<br />

que a comunida<strong>de</strong> joinvilense se estruturou segundo as bases das<br />

comunida<strong>de</strong>s anglo-saxônicas, as quais diferem, diametralmente, do<br />

municipalismo brasileiro” 79 .<br />

<strong>Joinville</strong> se <strong>de</strong>stacaria “quer pela formação cultural, quer pelas<br />

perspectivas que motivaram sua implantação”. Essas seriam as “bases”<br />

que explicam “toda a estrutura e o processo civilizatório joinvilense” 80 .<br />

Assim, segundo o autor, a compreensão histórica colocaria como<br />

imperativo não apenas o trabalho com documentos, mas também o<br />

estudo sobre a “psicologia”, a “cultura” e “os efeitos biológicos” do<br />

grupo <strong>de</strong> i<strong>migrante</strong>s que, originalmente, aqui se estabeleceu para dar<br />

77 TERNES, Apolinário, 1981. Op. cit. p. 103.<br />

78 Id. Ibid. p. 163.<br />

79 Id. Ibid. p. 165.<br />

80 Id. Ibid. p. 163.

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