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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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No escrito <strong>de</strong> 1981, Ternes busca fundamentar as raízes da<br />

gran<strong>de</strong> síntese (essência) da história <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. Como já afirmei<br />

anteriormente, trata-se do “esforço colonizador”. Os acontecimentoschave<br />

que antece<strong>de</strong>m à emergência <strong>de</strong>ssa essência joinvilense remontam<br />

à situação da França e da Alemanha na primeira meta<strong>de</strong> do século<br />

XIX, os quais incidiram sobre a negociação do dote da Princesa D.<br />

Francisca. Tal negociação teria sido o estopim para o empreendimento<br />

da colonização e da emigração. Por outro lado, os acontecimentoschave<br />

do Brasil no século XIX (substituição da mão-<strong>de</strong>-obra escrava<br />

pelo trabalho livre, <strong>de</strong>slocamento do centro econômico do norte para o<br />

centro-sul e suas implicações político-sociais) e o panorama catarinense<br />

da mesma época também contribuíram para o que chama <strong>de</strong> “gestação<br />

da colônia” ou “o ambiente em que nascerá” <strong>Joinville</strong> 74 .<br />

O “esforço colonizador” estaria ligado apenas ao “elemento<br />

germânico” 75 , cuja substância se nutriu da atitu<strong>de</strong> coletiva perante<br />

a migração. Os germânicos assumiram “<strong>uma</strong> viagem sem retorno”,<br />

rompendo com “todos os laços que os uniam às suas respectivas terras<br />

<strong>de</strong> origem”. Dessa auto<strong>de</strong>terminação irradiaria <strong>uma</strong> nova comunida<strong>de</strong>,<br />

que transformou um cenário inóspito em paisagem para a realização<br />

<strong>de</strong> um <strong>de</strong>stino. Como rito <strong>de</strong> passagem, a emigração teria sido um<br />

momento <strong>de</strong> fortalecimento da alma, <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> têmpera espiritual<br />

alimentada “em quase noventa e dois dias <strong>de</strong> viagem, difícil e penosa” 76 ,<br />

para enfrentar um recomeço a partir do nada.<br />

As migrações do século XX, especialmente as internas, não<br />

são tratadas pelo autor nessa dimensão existencial. O verbo migrar<br />

adquire significado sentimental, quase poético, apenas no trato dos<br />

<strong>de</strong>slocamentos dos “pioneiros”. Penso concorrerem aí dois pressupostos<br />

consi<strong>de</strong>rados pelo autor que dizem respeito ao seu olhar sobre o presente,<br />

às diferenciações sociais que estabelece e às representações do passado<br />

que fundamentam sua pretensão <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> historiográfica.<br />

O primeiro pressuposto consiste em atribuir aos pioneiros o<br />

protagonismo do “processo civilizatório” da cida<strong>de</strong>, pelo qual se<br />

justificaria historicamente a legitimida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r dominante <strong>de</strong> seus<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes. Porém me parece que esse pressuposto expressa também<br />

74 TERNES, Apolinário, 1981. Op. cit. p. 74.<br />

75 Explica o autor que as várias tentativas <strong>de</strong> colonização com açorianos e franceses<br />

“minguaram”, embora tenham contribuído para formar “parte do mosaico psico-social da gente<br />

catarinense”. Id. Ibid. p. 69.<br />

76 Id. Ibid. p. 100.

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