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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Tais questões ganham significado quando se proce<strong>de</strong> à leitura<br />

<strong>de</strong>ssa primeira obra <strong>de</strong> Ternes. Antecedo a análise <strong>de</strong> suas teses para<br />

<strong>de</strong>stacar as suas reflexões finais. Anunciando que o futuro seria<br />

<strong>de</strong>senhado pelas experiências <strong>de</strong> sucesso do passado, informava que<br />

a cida<strong>de</strong> iniciava “um novo período, fascinante, na medida em que<br />

reserva gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios a serem vencidos”. Tais <strong>de</strong>safios advinham das<br />

“profundas modificações em toda a estrutura social-política e econômica<br />

<strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>” nas últimas décadas. Porém, mais <strong>uma</strong> vez, a “comunida<strong>de</strong>”<br />

viveria essa provação “à maneira germânica” 71 . O importante seria ter<br />

“consciência <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>safios” e seguir os exemplos das “gerações que<br />

nos antece<strong>de</strong>ram” e que souberam superar toda a sorte <strong>de</strong> adversida<strong>de</strong>s<br />

“com amor, com trabalho e com inteligência” 72 .<br />

Nessa visagem otimista do autor, o passado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que <strong>de</strong>vidamente<br />

conhecido, serviria para “conscientizar” politicamente a “comunida<strong>de</strong>”<br />

joinvilense <strong>de</strong> sua “essência” primordial, inabalável e inalterável que<br />

impulsiona a cida<strong>de</strong> a continuar sua “marcha para o progresso”.<br />

Os termos em aspas serão discutidos adiante. Por ora é necessário<br />

<strong>de</strong>stacar os imperativos políticos do lugar social e profissional do<br />

historiador Ternes. Engajado n<strong>uma</strong> gestão municipal <strong>de</strong> oposição ao<br />

regime militar, seu discurso histórico <strong>de</strong>ixa entrever pelos ditos e não<br />

ditos 73 outros discursos do seu tempo, bem como as disputas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

num contexto que, por um lado, lhe parecia <strong>de</strong>sfigurado e pouco familiar,<br />

mas por outro protegido pelas pre<strong>de</strong>terminações históricas. As novas<br />

e antigas li<strong>de</strong>ranças po<strong>de</strong>riam com sua obra falar e se <strong>de</strong>ixar falar<br />

para a cida<strong>de</strong> que se transformava e que <strong>de</strong>sejava ser representada<br />

e ressiginificada outra vez. A disputa historiográfica <strong>de</strong>flagrada por<br />

Ternes em relação à obra <strong>de</strong> Ficker ganha aí novos elementos.<br />

Entre tantas análises já produzidas sobre essa e outras obras <strong>de</strong><br />

Ternes, proponho um itinerário que permita estabelecer um diálogo<br />

historiográfico “substantivo” com o autor, levando em conta os lugares<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> discursa, as expectativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>stinatários, o que diz e sobre<br />

o que silencia. Objetivo compreen<strong>de</strong>r as mudanças operadas no seu<br />

discurso a partir do tema imigração e migração (interna) e os seus<br />

vínculos com o passado e o presente urbano.<br />

71 TERNES, Apolinário, 1981. Op. cit. p. 270.<br />

72 Id. Ibid. p. 273.<br />

73 O autor não faz <strong>uma</strong> única alusão <strong>de</strong> conteúdo político ao regime militar. Quando o<br />

cita (capítulo IX, intitulado “O século XX e a marcha do progresso”), caracteriza-o como<br />

“nova configuração econômica” que oportuniza a cida<strong>de</strong> a <strong>de</strong>stacar-se nacionalmente como<br />

‘Manchester Catarinense’”. Id. Ibid. p. 268.

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