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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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que faz seu ‘outro’ – o selvagem, o passado, o povo, o louco, a criança, o<br />

terceiro mundo” 59 . Para ele, o interesse dos historiadores pela “verda<strong>de</strong>”<br />

que se revela nas suas práticas históricas simboliza a “própria relação<br />

entre um espaço novo, recortado no tempo e um modus operandi que<br />

fabrica ‘cenários’ susceptíveis <strong>de</strong> organizar práticas num discurso hoje<br />

inteligível” 60 . Por trás <strong>de</strong> toda pretensão <strong>de</strong> “verda<strong>de</strong>” sobre o passado<br />

estaria a “verda<strong>de</strong>” inteligível sobre o presente. Se ligar i<strong>de</strong>ias a lugares<br />

é <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> importância singular no trabalho do historiador, Ternes,<br />

segundo Certeau, <strong>de</strong>svia-se apressadamente <strong>de</strong>ssa tarefa historiográfica<br />

por duas razões.<br />

Em primeiro lugar, a obra <strong>de</strong> Ficker para ele “é extremamente<br />

dispersiva, carregada <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes, enfim, rica em consi<strong>de</strong>rações menores<br />

e, portanto, não valiosas”, o que teria dificultado muito o seu trabalho,<br />

“pois exigiu redobrado esforço e concentração” 61 . Assim, além <strong>de</strong><br />

maçante, a obra <strong>de</strong> Ficker foi um obstáculo, um problema a mais a<br />

ser superado na instauração da “verda<strong>de</strong>” da história <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. Em<br />

vez <strong>de</strong> buscar compreen<strong>de</strong>r seu interlocutor em termos <strong>de</strong> localização<br />

e <strong>de</strong> fontes e segundo o método <strong>de</strong> pertinência que Ficker adotou e<br />

instaurou em seu escrito, Ternes optou por <strong>de</strong>squalificá-lo em favor <strong>de</strong><br />

sua empreitada científica.<br />

Para Ternes, superar a empiria é ativida<strong>de</strong> árdua, porém é o<br />

que fundamenta um trabalho “assentado em premissas autenticamente<br />

verda<strong>de</strong>iras” 62 . A observação dos “fatos” e a assimilação <strong>de</strong> “todas as<br />

suas essências são tarefas que exigem disciplina mental e plena agilida<strong>de</strong><br />

da inteligência” 63 . Além disso, permite ao historiador arguto lidar com<br />

o “difícil caminho da interpretação e da crítica”, evitando as meras<br />

comparações entre os acontecimentos. Desse posicionamento penso<br />

emergir a segunda razão pela qual se po<strong>de</strong> explicar a precarieda<strong>de</strong> da<br />

crítica historiográfica <strong>de</strong> Ternes em relação a Ficker.<br />

Afirmando que a cientificida<strong>de</strong> do seu trabalho seria garantida<br />

pela “investigação fenomenológica da história <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>” 64 , da análise<br />

profunda do que consi<strong>de</strong>ra “acontecimentos-chaves” po<strong>de</strong>riam ser<br />

59 CERTEAU, Michel <strong>de</strong>. Op. cit. p. 14.<br />

60 Id. Ibid. p. 16.<br />

61 TERNES, Apolinário, 1981. Op. cit. p. 14.<br />

62 Id. Ibid. p. 15.<br />

63 Id. Ibid. p. 14.<br />

64 Id. Ibid. p. 13.

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