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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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2.2 O CASO TERNES<br />

No ano em que a cida<strong>de</strong> comemorava 130 anos (1981), Apolinário<br />

Ternes assim significava a obra que publicava: “o primeiro esforço<br />

intelectual produzido sob <strong>uma</strong> nova visão e <strong>uma</strong> nova metodologia<br />

científica” 54 . O autor situava sua obra posicionando-se contra o que<br />

chamou “modismos dialéticos da atualida<strong>de</strong>” 55 .<br />

A obra era fruto <strong>de</strong> seu trabalho <strong>de</strong> conclusão do curso <strong>de</strong><br />

graduação em História pela Fundação Universitária da Região <strong>de</strong><br />

<strong>Joinville</strong>, em 1977 56 . Contrapor-se aos “modismos dialéticos” talvez<br />

significasse <strong>de</strong>marcar politicamente o seu lugar, já que naqueles tempos<br />

os enfrentamentos acadêmicos, em diferentes e inusitadas situações,<br />

tinham como referência polarizações i<strong>de</strong>ológicas fomentadas com<br />

base em posicionamentos e avaliações das i<strong>de</strong>ias marxistas, incluindo<br />

a dialética materialista. Possivelmente, qualificar como modismo tal<br />

princípio epistemológico seria, para o autor, antecipar-se às críticas que<br />

a obra suscitaria para alguns dos seus contemporâneos.<br />

Por outro lado, Ternes explica que seu trabalho “abandonou<br />

<strong>de</strong> vez a história factual e <strong>de</strong>scritiva para se aprofundar apenas nos<br />

acontecimentos-chaves. Naqueles fatos que têm alto conteúdo histórico,<br />

capazes <strong>de</strong> realmente alterar a vida da comunida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>flagrarem outras<br />

perspectivas e novos rumos” 57 . A relevância <strong>de</strong> sua obra é justificada<br />

por oposição ao livro do historiador Carlos Ficker 58 , publicado em 1965,<br />

que até então era, se não o único, o mais lido trabalho sobre a história<br />

<strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. Ternes intencionalmente se apropria do título “História <strong>de</strong><br />

<strong>Joinville</strong>” e agrega-lhe o aposto “<strong>uma</strong> abordagem crítica”, colocando<br />

explicitamente em disputa a “verda<strong>de</strong>” do discurso histórico.<br />

Para discutir essa pretensão <strong>de</strong> Ternes, recorro ao já citado<br />

historiador Michel <strong>de</strong> Certeau, para o qual os historiadores (oci<strong>de</strong>ntais),<br />

ao distinguirem o passado do presente, bem como “o discurso” do “corpo<br />

(social)”, supõem que a inteligibilida<strong>de</strong> historiográfica se instaura na<br />

relação com o outro e “se <strong>de</strong>sloca (ou ‘progri<strong>de</strong>’) modificando aquilo <strong>de</strong><br />

54 TERNES, Apolinário, 1981. Op. cit. p. 12.<br />

55 Id. Ibid. p. 13.<br />

56 Id. Ibid.<br />

57 Id. Ibid. p. 11.<br />

58 FICKER, Carlos. Op. cit.

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