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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Ao longo do seu trabalho, questionar o discurso do i<strong>migrante</strong> vencedor<br />

e responsável pela pujança econômica <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> é o passaporte<br />

para <strong>de</strong>sabilitar, <strong>de</strong> partida, a inclusão dos historiadores no campo<br />

inimigo, ou seja, na história tradicional, não importando o que e como<br />

trazem à luz suas hipóteses. O critério primordial para pertencer<br />

a essa nova corrente é opor-se ao po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> tal versão em favor <strong>de</strong><br />

“novas” personagens, tais como trabalhadores (grevistas, <strong>migrante</strong>s<br />

e sindicalizados), luso-brasileiros, suíços, indígenas, negros e<br />

mulheres e <strong>de</strong> “novos” temas, tais como, “imaginário local”, “práticas<br />

culturais” e “mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>” 50 . Estar nessa orla amiga é ter se disposto<br />

a produzir um antídoto que, extraído do próprio veneno, frustraria<br />

os seus efeitos.<br />

Penso, por fim, que a etnicização da história <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong><br />

também se <strong>de</strong>ixa ver on<strong>de</strong> ela pretensamente é negada por outras<br />

adjetivações discursivas – correntes e recorrentes – que visam<br />

explicar a migração recente e o lugar dos <strong>migrante</strong>s, tais como<br />

“cida<strong>de</strong> cosmopolita” 51 , cida<strong>de</strong> da “diversida<strong>de</strong> cultural” 52 ou<br />

mesmo “cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>scaracterizada” 53 . No conjunto esses termos,<br />

ao serem enunciados, significados e posteriormente interpretados<br />

no campo historiográfico, <strong>de</strong>ixam entrever os constrangimentos,<br />

as motivações e os <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> saber (e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r) que movem os<br />

historiadores em suas práticas historiográficas ao longo das últimas<br />

décadas do século XX.<br />

Por isso a questão migratória não é para mim apenas<br />

impulsionadora da análise historiográfica das obras, mas também<br />

um contexto que, penso eu, <strong>de</strong>safiou e possibilitou novos olhares<br />

sobre a cida<strong>de</strong>. Olhares estrangeiros <strong>de</strong> historiadores que fitavam<br />

outra vez a cida<strong>de</strong> que lhes parece eivada por estrangeirices.<br />

50 Conforme tópicos e subtópicos organizados pela autora em suas análises. MATHYAS,<br />

Alessandra da Mota. Op. cit.<br />

51 Refiro-me à utilização do termo por parte <strong>de</strong> agentes políticos, entre eles do Sr. Wilmar<br />

<strong>de</strong> Souza, conforme já discutido no Capítulo I. SOUZA, Wilmar. Depoimento. entrevista<br />

concedida a diego Fin<strong>de</strong>r machado e ilanil Coelho. <strong>Joinville</strong>, 30 jan. 2008.<br />

52 Pu<strong>de</strong> constatar na pesquisa realizada na imprensa que a expressão “diversida<strong>de</strong> cultural”<br />

começou a ganhar sentido a partir <strong>de</strong> 1995. Entretanto ela não se referia diretamente ao processo<br />

migratório, mas ao reavivamento da “italianida<strong>de</strong>”, conforme já discutido no Capítulo I.<br />

53 Tal <strong>de</strong>signação é utilizada amplamente nos discursos que analiso. Na maior parte das vezes,<br />

ela adquire o sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia ante a constatação <strong>de</strong> “perdas” étnicas.

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