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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Entre outras afirmações, é o próprio Rodowicz-Oswiecimsky que<br />

explicita esses propósitos. Valho-me exemplarmente das suas palavras<br />

que, aliás, são utilizadas como citação por Mathyas. Diz ele: “Eu abor<strong>de</strong>i<br />

inúmeros assuntos, no intuito <strong>de</strong> chamar a atenção daqueles que têm<br />

o po<strong>de</strong>r nas mãos, para consertar, remediar, melhorar ou recuperar o<br />

que foi negligenciado” 44 .<br />

Mais do que “história tradicional local”, o escrito <strong>de</strong> Rodowicz-<br />

Oswiecimsky não po<strong>de</strong>ria ser compreendido como <strong>uma</strong> crítica intencional<br />

a discursos mais otimistas sobre a emigração e as vivências dos i<strong>migrante</strong>s<br />

do século XIX no Brasil? Eis a historicida<strong>de</strong> inexplorada do seu discurso<br />

e dos discursos <strong>de</strong> seu tempo que, mesmo silenciados, se <strong>de</strong>ixam ler nele<br />

e que foram, no conjunto, <strong>de</strong>ixados <strong>de</strong> lado por Mathyas.<br />

Há, ainda, outro argumento <strong>de</strong> que a autora lança mão para<br />

reputar o escrito como aquele que inaugura a “história tradicional local”.<br />

Segundo ela, pelo fato <strong>de</strong> Rodowicz-Oswiecimsky ter utilizado como<br />

fonte o contrato <strong>de</strong> fundação da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Colonização <strong>de</strong> Hamburgo,<br />

po<strong>de</strong>-se acreditá-lo como o “fundador da história <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>”, pois “usa<br />

<strong>uma</strong> ‘fonte oficial’, <strong>de</strong>screvendo-a e <strong>de</strong>pois a comentando” 45 .<br />

Estabelece, nesse exemplo, sua i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “fonte oficial”. Trata-se<br />

não apenas da adjetivação da instituição que a gerou 46 , mas também <strong>de</strong><br />

como ela foi utilizada. Em outras palavras, a história tradicional seria<br />

aquela que, baseada na <strong>de</strong>scrição (mesmo que comentada) <strong>de</strong> documentos<br />

administrativos, teria como ambição (um tanto “prepotente”) dar conta<br />

da “verda<strong>de</strong>” dos fatos.<br />

Dessa imprecisão <strong>de</strong> fonte oficial, Mathyas qualifica igualmente<br />

a obra <strong>de</strong> Carlos Ficker 47 , embora inclua aí outros tipos <strong>de</strong> fonte. Ajuíza<br />

ela: “O texto é <strong>uma</strong> <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>talhada, construída a partir do discurso<br />

vigente <strong>de</strong> então, e reforçado pelos documentos encontrados nos arquivos<br />

da Europa, no Arquivo Nacional e por matérias <strong>de</strong> jornais” 48 . Assim,<br />

as fontes oficiais abrangeriam não apenas documentos administrativos,<br />

mas documentos <strong>de</strong> arquivos. Entretanto tornam-se oficiais por força dos<br />

vínculos que os historiadores estabelecem com elas e que reverberam em<br />

suas narrativas marcadas pelos discursos vigentes.<br />

44 RODOWICZ-OSWIECIMSKY, Theodor. Op. cit. p. 110.<br />

45 MATHYAS, Alessandra da Mota. Op. cit. p. 40.<br />

46 Neste caso, um contrato produzido pela empresa <strong>de</strong> imigração e colonização.<br />

47 FICKER, Carlos. Op. cit.<br />

48 MATHYAS, Alessandra da Mota. Op. cit. p. 49.

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