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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Buscarei “no mundo do texto” o modo como os historiadores<br />

representam os <strong>migrante</strong>s e a migração na história <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> e ainda<br />

quais as intencionalida<strong>de</strong>s que ressoam e dizem respeito ao lugar <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

escrevem. <strong>Pelas</strong> representações da cida<strong>de</strong> que constroem perscrutarei,<br />

também, as expectativas dos autores <strong>de</strong> interveniência sobre o “mundo<br />

do leitor” para o qual eles se dirigem, lembrando que essa <strong>de</strong>stinação,<br />

como salienta Chartier, já constitui a “apresentação <strong>de</strong> um ausente”, <strong>de</strong><br />

um estranho, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> marcos <strong>de</strong> diferenciação social adotados 26 .<br />

Ao me apropriar <strong>de</strong>sses discursos pretendo discutir como os<br />

fluxos migratórios, a partir da década <strong>de</strong> <strong>1980</strong>, incitam os escritores<br />

a olhar a cida<strong>de</strong> outra vez e, principalmente, como modificam seus<br />

olhares. Seja pela forma como explicam o fenômeno migratório, seja<br />

pela maneira como não o explicam, aí lhe atribuindo não raras vezes<br />

um caráter secundário, somatório ou colateral (e por isso a-histórico)<br />

dos acontecimentos que sinalizam a transformação urbana, os autores<br />

explicitam-se pelos olhares <strong>de</strong> estranhamento sobre a cida<strong>de</strong> que se<br />

propõem (re)conhecer.<br />

Provocada pela leitura do artigo do historiador Durval Muniz<br />

<strong>de</strong> Albuquerque Junior 27 , sinto-me impelida, ainda, a analisar a<br />

historiografia <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> tomando alguns cuidados.<br />

Refletindo sobre a prática <strong>de</strong> análise historiográfica no Brasil,<br />

Albuquerque Junior chama a atenção para a existência <strong>de</strong> <strong>uma</strong> “abusiva<br />

adjetivação” na qualificação que os historiadores dão às obras <strong>de</strong> outros<br />

historiadores. Em sua opinião, termos substantivados que po<strong>de</strong>riam<br />

explicitar o diálogo teórico-metodológico raramente são utilizados<br />

para qualificar obras e autores. Sob diversos termos generalizantes e<br />

pouco discutidos – entre eles, conservadores, i<strong>de</strong>ológicos, ultrapassados,<br />

marxistas, pós-mo<strong>de</strong>rnos –, as análises pouco exploram ou estimulam<br />

o conhecimento mais aprofundado das obras <strong>de</strong> que se valem, dando<br />

<strong>de</strong>staque ao veredicto e não à causa submetida a sua apreciação.<br />

A explicação para esse tão marcante traço da cultura acadêmica<br />

e historiográfica no Brasil seria, para o autor, “fruto do enorme peso<br />

que a formação jurídica teve na constituição <strong>de</strong> nossa intelectualida<strong>de</strong>”,<br />

instaurando “<strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> lógica inquisitorial em que autores e textos<br />

são con<strong>de</strong>nados ou excomungados” 28 . Decorre também da adjetivação<br />

26 CHARTIER, Roger, 2002. Op. cit. p. 76.<br />

27 ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz <strong>de</strong>. Op. cit.<br />

28 Id. Ibid. . p. 2.

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