08.05.2013 Views

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

162<br />

lugar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> pulsa, lateja e se move a minha investigação, bem como<br />

é o lugar <strong>de</strong> minhas práticas <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> escrita.<br />

Reafirmar tal i<strong>de</strong>ia significa esclarecer que perpassa no meu<br />

trabalho, como nos que irei analisar, a complexa questão da “vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>” discutida pelo filósofo Michel Foucault, em A or<strong>de</strong>m do<br />

discurso 14 . Ao apresentar como se modificaram historicamente as<br />

concepções <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> e os seus procedimentos <strong>de</strong> busca, supõe que<br />

em toda socieda<strong>de</strong> a produção do discurso é “controlada, selecionada,<br />

organizada e redistribuída por certo número <strong>de</strong> procedimentos que têm<br />

por função conjurar seus po<strong>de</strong>res e perigos, dominar seu acontecimento<br />

aleatório, esquivar sua pesada e temível materialida<strong>de</strong>” 15 . O discurso,<br />

por isso, estaria submetido a um processo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nação e <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong><br />

exclusão advindas da exteriorida<strong>de</strong>, pelo qual impõe àquele que discursa<br />

interdições. Por outro lado, o discurso traduz a luta e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

daquele que discursa impulsionado pela “vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber”. Diz ele: “O<br />

discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas<br />

<strong>de</strong> dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o po<strong>de</strong>r do qual<br />

nós queremos apo<strong>de</strong>rar” 16 .<br />

Penso que tal i<strong>de</strong>ia é reforçada por Foucault na obra Microfísica<br />

do po<strong>de</strong>r 17 , quando afirma que “cada socieda<strong>de</strong> tem seu regime <strong>de</strong><br />

verda<strong>de</strong>, sua ‘política geral’ <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>: isto é, os tipos <strong>de</strong> discurso que<br />

ela acolhe e faz funcionar como verda<strong>de</strong>iros” 18 . Contudo não se po<strong>de</strong>m<br />

ignorar os discursos que “procuraram contornar essa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> verda<strong>de</strong><br />

[amansada pelos procedimentos <strong>de</strong> interdição] e recolocá-la em questão<br />

contra a verda<strong>de</strong>” 19 ou contra a política geral <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>.<br />

É preciso justificar por que tal reflexão ganha importância para<br />

os meus argumentos. A relação entre discursos – e o interdiscurso<br />

– envolve disputas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que dizem respeito a como e a que <strong>uma</strong><br />

14 FOUCAULT, Michel. a or<strong>de</strong>m do discurso. Aula inaugural no Collège <strong>de</strong> France,<br />

pronunciada em 2 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1970. 11. ed. São Paulo: Loyola, 2004.<br />

15 Id. Ibid. p. 4.<br />

16 Id. Ibid. p. 5.<br />

17 FOUCAULT, Michel. microfísica do po<strong>de</strong>r. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Graal, 1998.<br />

18 Id. Ibid. p. 10.<br />

19 A sua abordagem sobre po<strong>de</strong>r e saber ganha especial importância. Para o autor, po<strong>de</strong>r não seria<br />

algo que se possa ter ou não, ou mesmo ser pensado como instância autônoma ou exclusiva do<br />

Estado ou <strong>de</strong> instituições. O po<strong>de</strong>r é exercido e praticado e “atravessa todo o corpo social”. O<br />

saber praticado enquanto discurso seria, portanto, um po<strong>de</strong>r praticado. FOUCAULT, Michel,<br />

2004. Op. cit. p. 9.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!