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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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da operação historiográfica para situar minhas intenções <strong>de</strong> tratamento<br />

metodológico dos discursos <strong>de</strong> que me ocuparei.<br />

Para Certeau, toda a produção historiográfica se articula com<br />

um lugar e “é em função <strong>de</strong>ste lugar que se instauram os métodos,<br />

que se <strong>de</strong>lineia <strong>uma</strong> topografia <strong>de</strong> interesses, que os documentos e as<br />

questões, que lhes serão propostas, se organizam” 11 . O que a história<br />

diz <strong>de</strong> <strong>uma</strong> socieda<strong>de</strong> é tão importante quanto saber como ela funciona<br />

na socieda<strong>de</strong>. I<strong>de</strong>ntificar o lugar <strong>de</strong>sse discurso é i<strong>de</strong>ntificar o jogo e a<br />

função que lhe são próprios e que impõem ao historiador as fronteiras<br />

entre o que é permitido ou interdito ao seu trabalho. Como diz Certeau:<br />

“Levar a sério o seu lugar não é ainda explicar a história. Mas é a<br />

condição para que alg<strong>uma</strong> coisa possa ser dita sem ser nem legendária<br />

(ou ‘edificante’), nem a-tópica (sem pertinência)” 12 .<br />

A operação historiográfica abarca ainda a prática da investigação<br />

e da escrita. Isso impele o historiador à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> métodos e<br />

procedimentos, a qual “começa com o gesto <strong>de</strong> separar, <strong>de</strong> reunir,<br />

<strong>de</strong> transformar em ‘documentos’ certos objetos distribuídos <strong>de</strong> outra<br />

maneira” 13 , mas também à problematização sobre o que lhe chega como<br />

fato ou acontecimento e que po<strong>de</strong> pôr em relevância as incompreensões<br />

e os <strong>de</strong>svios que, em última instância, singularizam e sustentam o seu<br />

próprio trabalho.<br />

Portanto, a história é um discurso instituído a partir <strong>de</strong> um lugar<br />

(institucional e social) e <strong>de</strong> <strong>uma</strong> prática que visa produzir um corpo <strong>de</strong><br />

enunciados, os quais <strong>de</strong>mandaram o acionamento <strong>de</strong> outros discursos<br />

(ou documentos). Por isso, Certeau atribui ao discurso histórico a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discurso “folheado”, construído com base na análise e<br />

em procedimentos que, valendo-se <strong>de</strong> discursos do passado, se tornam<br />

presentes como citações. Explica ele que a história aí se firma e se<br />

afirma como possibilida<strong>de</strong> científica e se <strong>de</strong>ixa ver como conhecimento<br />

que “insinua o plural em lugar do unívoco”.<br />

Dessas reflexões, procuro i<strong>de</strong>ntificar para o leitor o meu lugar<br />

como historiadora, bem como os caminhos <strong>de</strong> que me valho para discutir<br />

o passado da cida<strong>de</strong> <strong>migrante</strong> que se insinua pelos discursos históricos e<br />

da imprensa. Além dos “constrangimentos” próprios do meu lugar como<br />

doutoranda na universida<strong>de</strong>, <strong>Joinville</strong>, <strong>uma</strong> cida<strong>de</strong> contemporânea, é o<br />

11 CERTEAU, Michel <strong>de</strong>. a escrita da história. Tradução <strong>de</strong> Maria <strong>de</strong> Lur<strong>de</strong>s Menezes. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Forense Universitária, 1982. p. 66.<br />

12 Id. Ibid. p. 77.<br />

13 Id. Ibid. p. 82.

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