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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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repertório para empreen<strong>de</strong>r estudos linguísticos, meu interesse é<br />

trabalhar o discurso no campo da história. Mesmo consi<strong>de</strong>rando os<br />

marcos metodológicos que diferenciam o trabalho <strong>de</strong> linguistas e <strong>de</strong><br />

historiadores, procuro sustentar a aproximação entre as áreas por meio<br />

da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o discurso, como fonte, po<strong>de</strong> ser tratado e trabalhado<br />

não apenas n<strong>uma</strong> abordagem quantitativa ou serial, mas também n<strong>uma</strong><br />

abordagem qualitativa. Como instância que põe em relação sujeitos e<br />

sentidos afetados pela língua e pela história, conforme concebe Orlandi,<br />

o discurso po<strong>de</strong> ser analisado para além <strong>de</strong> sua superfície linguística ou<br />

mesmo para além da sua subtração, como unida<strong>de</strong> ilustrativa, <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

(suposta) totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentidos históricos.<br />

No campo da história, ganha importância a reflexão do historiador<br />

Roger Chartier 6 . Ao discutir a construção dos sentidos que envolvem o<br />

“mundo do texto” e o “mundo do leitor”, o autor insere <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ia que<br />

lhe é bastante cara, qual seja a <strong>de</strong> “apropriação” para esclarecer que um<br />

texto (discurso) não encerra dizeres e sentidos unívocos e imutáveis.<br />

Ao contrário, ele se afirma como discurso no entrecruzamento <strong>de</strong>sses<br />

dois mundos.<br />

Atribui a Michel <strong>de</strong> Certeau a importância e a centralida<strong>de</strong> que<br />

adquiriu na história cultural a noção <strong>de</strong> apropriação, segundo a qual<br />

enfatiza a “pluralida<strong>de</strong> dos empregos e das compreensões e a liberda<strong>de</strong><br />

criadora – mesmo que seja regrada – dos agentes” 7 em relação aos<br />

objetos culturais <strong>de</strong> que fazem uso. Por isso, analisar os discursos requer<br />

concebê-los nesse terreno móvel e dinâmico que os institui como tal e<br />

consi<strong>de</strong>rá-los sempre abertos a interpretações, a<strong>de</strong>ndos e mudanças.<br />

Longe <strong>de</strong> serem tratados como espelhamento nítido das<br />

experiências h<strong>uma</strong>nas <strong>de</strong> <strong>uma</strong> configuração social, os discursos são<br />

instituídos tanto pelas práticas <strong>de</strong> escrita como pelas práticas <strong>de</strong><br />

leitura. E ainda, como “não há prática [...] que não seja produzida pelas<br />

representações, contraditórias e afrontadas, pelas quais os indivíduos e<br />

os grupos dão sentido ao seu mundo” 8 , atentar para os processos que<br />

sustentam as operações <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> sentidos é reconhecer que “nem<br />

6 CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre certezas e inquietu<strong>de</strong>. Tradução <strong>de</strong><br />

Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: UFRGS, 2002; ______. O mundo como representação.<br />

estudos avançados, v. 5, n. 11, p. 173-191, 1991.<br />

7 CHARTIER, Roger, 2002. Op. cit. p. 67.<br />

8 Id. Ibid. p. 66.

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