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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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154<br />

O “circuito” seria, assim, <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> classificação ou recorte<br />

que é <strong>de</strong>lineado e construído igualmente por referências simbólicas e<br />

práticas compartilhadas. O reconhecimento <strong>de</strong>le é <strong>uma</strong> entre outras<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> os sujeitos urbanos estabelecerem seus próprios<br />

“trajetos”. Dessa forma, o componente espacial que caracteriza a i<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> “pedaço” po<strong>de</strong>, por intermédio <strong>de</strong> “trajetos” e “circuitos”, tornar-se<br />

mais transitório, flexível e <strong>de</strong>slizante.<br />

Ao reivindicar a elaboração <strong>de</strong> um calendário <strong>de</strong> festas italianas<br />

<strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>, o Sr. Corrente permite i<strong>de</strong>ntificar tanto possíveis trajetos<br />

como circuitos que imprimem nova dimensão da estetização étnica<br />

urbana. Disse-nos que a Festa da Polenta é <strong>uma</strong> festa italiana. Para ele,<br />

não importam as “profanações <strong>de</strong>formatórias” 303 da italianida<strong>de</strong> festiva,<br />

por força das necessárias “adaptações” que ocorrem na dança, na música<br />

ou nas apresentações culturais. O que importa são os sentidos que a<br />

festa e o bairro adquirem no contexto urbano como meio e mediação<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação étnica italiana fortalecida por “trajetos”.<br />

Dessa perspectiva, é também possível estabelecer <strong>uma</strong> relação<br />

entre a Festa do Arroz, a Festa da Polenta do Vila Nova e a Festa<br />

da Polenta do Itinga. O reconhecimento que fiz da presença <strong>de</strong>sse<br />

circuito <strong>de</strong> italianida<strong>de</strong> na cida<strong>de</strong> contemporânea apenas foi possível<br />

por percorrer trajetos já <strong>de</strong>lineados por anônimas pegadas no território<br />

urbano.<br />

A par do que foi dito, reafirmo em outras palavras que o<br />

<strong>de</strong>safio que tentei <strong>de</strong>sinquietar foi i<strong>de</strong>ntificar pelas festas <strong>de</strong> bairro<br />

as práticas e os significados dos sujeitos urbanos no “pedaço” e ao<br />

mesmo tempo como a cida<strong>de</strong> é constituída e se constitui por tais sujeitos.<br />

Ao tratar dos hibridismos margeantes, tive por propósito contrapor a<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> daqueles que se colocaram (e se colocam) no centro da<br />

urbanida<strong>de</strong> e como autores inquestionáveis dos “marcadores” culturais<br />

da singularida<strong>de</strong> joinvilense, por intermédio da sua espetacularização,<br />

<strong>de</strong> que a Festa das Tradições foi um exemplo.<br />

Mosaico, diversida<strong>de</strong>, multiculturalismo, etnicida<strong>de</strong>, termos que<br />

ao serem aprofundados me possibilitaram conceber a cida<strong>de</strong> como um<br />

303 Tal expressão é extraída do trabalho do sociólogo Jesús Martín-Barbero. Ao estudar os<br />

meios <strong>de</strong> comunicação urbana, o autor, que igualmente se inspira em Magnani, afirma que<br />

no bairro é possível i<strong>de</strong>ntificar expressões estéticas que buscam transformar o “folclórico<br />

em popular”. O exame <strong>de</strong>las possibilita i<strong>de</strong>ntificar as mediações como criações que apenas<br />

aparentemente têm caráter <strong>de</strong> “profanação <strong>de</strong>formatória do ‘autêntico’”. MARTÍN-BARBERO,<br />

Jesús. dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

UFRJ, 2001. p. 289.

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