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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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sofisma verbal que, aliás, está presente em outras publicações 288 . Penso<br />

que o jornalista não apenas quer aludir à localização do bairro, mas<br />

também aos seus moradores.<br />

Situado ao sul da cida<strong>de</strong>, o bairro faz divisa com o município<br />

<strong>de</strong> Araquari. Segundo Assunção, no Itinga “é possível encontrar muitos<br />

paranaenses e gaúchos dividindo espaço com catarinenses. São na<br />

maioria trabalhadores que vieram para a cida<strong>de</strong> à procura <strong>de</strong> <strong>uma</strong> vida<br />

melhor para si e para família”. Ora, se geograficamente o bairro é<br />

limítrofe a outra cida<strong>de</strong> e seus moradores provêm <strong>de</strong> outras regiões,<br />

por que não <strong>de</strong>signá-lo como bairro que “está on<strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> começa”?<br />

O “estar on<strong>de</strong> termina”, então, constitui um recurso semântico que o<br />

caracteriza como lugar isolado, carente e, n<strong>uma</strong> cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> não se quer<br />

estar, um lugar perdido no mapa. Penso que a <strong>de</strong>signação do jornalista<br />

ao bairro se ancora em mapas mentais, os quais dizem respeito ao<br />

imaginado por aqueles que pouco nele transitam a não ser em suas<br />

idas ao litoral próximo 289 . Como ele mesmo diz, “lá nas paragens on<strong>de</strong><br />

<strong>Joinville</strong> termina, on<strong>de</strong> os viajantes cost<strong>uma</strong>m achar que já estão fora<br />

da cida<strong>de</strong>, bem lá, está o bairro Itinga” 290 .<br />

Em 2000, a história do bairro foi objeto <strong>de</strong> outra reportagem do<br />

jornal. Segundo o texto, no século XIX passavam pelo bairro carroceiros<br />

e cavaleiros levando e trazendo mercadorias da Colônia Dona Francisca,<br />

São Francisco do Sul e Jaraguá do Sul. Até meados da década <strong>de</strong><br />

<strong>1980</strong>, alguns <strong>de</strong> seus moradores ainda mantinham criação <strong>de</strong> animais<br />

e plantação <strong>de</strong> arroz, aipim e cana. O processo <strong>de</strong> expansão urbana<br />

e a migração tornaram o bairro um dos mais populosos e pobres <strong>de</strong><br />

<strong>Joinville</strong> 291 . O po<strong>de</strong>r público municipal lentamente promovia melhorias<br />

288 Como em repetidas publicações do IPPUJ. A esse respeito ver: PREFEITURA MUNICIPAL<br />

DE JOINVILLE. Fundação Instituto <strong>de</strong> Pesquisa e Planejamento para o Desenvolvimento<br />

Sustentável <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. <strong>Joinville</strong> bairro a bairro: 2006. <strong>Joinville</strong>: IPPUJ, 2006.<br />

289 Segundo Amado e Figueiredo, o espaço é social e cultural, na medida em que é pensado,<br />

sentido e imaginado segundo diferentes pessoas, grupos e socieda<strong>de</strong> que com ele interagem. Isso<br />

diz respeito à forma como é representado. Os mapas mentais são criações impulsionadas tanto<br />

pelas “mentalida<strong>de</strong>s” das pessoas que os elaboram quanto pelos “elementos físicos concretos”.<br />

AMADO, Janaína; FIGUEIREDO, Luiz Carlos. no tempo das caravelas. São Paulo: Contexto,<br />

1992. Especialmente o capítulo <strong>de</strong>nominado “Da geografia da imaginação à geografia da<br />

experiência: mapas europeus dos séculos XV e XVI”.<br />

290 ASSUNÇÃO, Luis Fernando. Itinga..., 1997a. Op. cit.<br />

291 Segundo estimativa do IPPUJ, o bairro em 2005 totalizava 7.659 moradores, dos quais apenas<br />

10% tinham ida<strong>de</strong> igual ou superior a 50 anos. O censo do IBGE <strong>de</strong> 2000 apontou que cerca<br />

<strong>de</strong> 60% dos moradores ganhavam até cinco salários mínimos e, entre eles, 51% abaixo <strong>de</strong> três<br />

salários mínimos. Cf.: PREFEITURA MUNICIPAL DE JOINVILLE, 2006. Op. cit.

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